Artes/cultura
18/11/2022 às 11:07•2 min de leitura
Curadores da Biblioteca Nacional do Peru afirmaram que um documento histórico dos incas, roubado durante a Guerra do Pacífico (1879-1884), foi devolvido ao seu lugar de origem. O caso ocorreu após pesquisadores locais entrarem em contato com os atuais detentores do artefato e negociar a recuperação do registro, em um processo que, segundo o responsável pelas conversas, durou quase uma década de gestão.
Intitulado de “Memórias da monarquia peruana ou esboço da história dos incas”, o documento foi originalmente escrito na década de 1830 por Justo Apu Sahuaraura, sacerdote católico e herói da independência peruana. O autor da obra, descendente direto, por linha materna, do imperador inca Huayna Cápac e do príncipe Cristóbal Paullo Inca, trouxe com detalhes como ocorreu o legado das memórias imperiais da região, em um período que se estendeu entre os séculos XV e XVI.
(Fonte: Biblioteca Nacional del Perú / Reprodução)
"O valor deste documento do ano de 1838 é incalculável. Sempre se considerou uma joia documental extremamente rara, não temos outro caso desta natureza", declarou Gerardo Trillo, diretor de proteção de Coleções da Biblioteca Nacional. “Foi uma década de gestões para que este manuscrito seja devolvido. Inclusive, convidamos quem possuía para contribuir com a memória histórica dos peruanos. Nesses termos a devolução foi feita”.
(Fonte: Biblioteca Nacional del Perú / Reprodução)
Segundo dados da Biblioteca Nacional do Peru, “Memórias da monarquia peruana ou esboço da história dos incas” foi roubado pelo exército chileno entre 1881 e 1883, período em que ocorria a tentativa de ocupação das tropas estrangeiras no território de Lima. Peruanos e bolivianos, que defendiam o mesmo lado no conflito, falharam em proteger a relíquia e viram o artefato partir para a galeria de colecionadores, em vez das bibliotecas no Chile. Foi então que décadas se passaram sem qualquer notícia de seu paradeiro.
Após incontáveis anos de recusa pela devolução do documento, o último portador, a família brasileira Mindlin, que detinha o objeto desde a década de 1970, aceitou devolvê-lo à biblioteca original. Em São Paulo, os integrantes da família são conhecidos no meio de colecionadores, mas abriram mão de um arquivo inestimável por meio de tratativas no consulado peruano em São Paulo.
(Fonte: Biblioteca Nacional del Perú / Reprodução)
Desde 2021, quando o transporte para o Peru foi formalizado, o arquivo histórico sofreu um processo de digitalização e pode ser consultado sem custos na internet. Desde então, ele é atração em programas sobre arte e cultura local, sendo exibido em teatros, palcos, vitrines e exposições com o objetivo de estabelecer vínculos entre a sociedade moderna e a construção civilizatória do país.