Ciência
24/01/2023 às 09:00•3 min de leitura
Muito além do alcance da nossa visão existe um mundo incrível, dominado por criaturas que parecem vindas de algum livro de fantasia ou ficção científica. É o caso dos copépodes, um grupo de crustáceos microscópicos que conta com cerca de 13 mil espécies conhecidas. Com as mais diversas cores e formas, esses pequenos animais podem ser encontrados nas fossas oceânicas mais profundas e nos lagos das mais altas cadeias de montanhas.
Tamanha diversidade despertou o interesse do fotógrafo espanhol Angel Fitor. Formado em biologia marinha, ele passou a maior parte da carreira fazendo fotos da vida selvagem. Em determinado momento, Fitor começou a pensar nos organismos que ele não conseguia ver. Criaturas que flutuam com as correntes oceânicas e são pequenas demais para serem fotografadas sem ferramentas científicas especiais.
Angel Fitor preparando uma gota para suas fotos. (Fonte: Smithsonian)
A maioria dos copépodes varia de 0,2 a 1,7 milímetros de comprimento. Eles são muito pequenos para poderem ser vistos nitidamente a olho nu, mas grandes o suficiente para serem ampliados usando lentes e equipamentos convencionais. Foi assim que Fitor pensou que poderia haver um mundo fascinante para ser registrado. “Imaginei cada gota de água como um aquário”, comentou o fotografo.
Foram necessários três anos para que Fitor conseguisse fazer as suas fotos. Acostumado a tirar fotos da vida marinha, ele decidiu avançar no Mar Mediterrâneo para tentar conseguir amostras diversas. Ele coletava água a profundidades que variavam de 10 a 15 metros e as levava para seu estúdio caseiro na vila costeira de Alicante, perto de Valência, na costa leste da Espanha.
Uma larva de pepino-do-mar flutuando em uma gota d'água. (Fonte: Smithsonian)
A partir desse momento, ele precisava trabalhar rápido. Quando os copépodes morrem, eles perdem a cor e se parecem com besouros marrons, e o objetivo de Fitor era registrar os azuis e dourados vívidos dos organismos vivos. Ele também queria mostrá-los em ação, da mesma maneira que faz quando fotografa qualquer outros animais marinhos.
Isso criou uma dificuldade extra. Fitor precisou trabalhar em uma condição bastante específica no seu estúdio. Por um lado, ele precisava de uma iluminação intensa, para conseguir capturar todos os detalhes com suas lentes. Ao mesmo tempo, ele não poderia deixar que a água evaporasse ou superaquecesse as criaturas.
Acima, um verme do mar carregando uma ninhada de ovos afasta uma larva semelhante a um camarão. Embaixo, o verme sai nadando enquanto chicoteia a larva com o rabo. (Fonte: Smithsonian)
Fitor usou iluminação LED e fortes rajadas de ar condicionado para manter a temperatura constante. Mas ter as condições ideais era apenas uma parte do seu problema. Como ele estava trabalhando com criaturas minúsculas, era difícil conseguir as melhores amostras.
“Era como tentar pescar”, ele comentou, ao falar da dificuldade de ficar observando os recipientes com água marinha. Depois disso, era preciso pegar a água com uma micropipeta e contar com um pouco de sorte. Em algumas situações, Fitor passou oito horas tentando tirar uma única foto.
Quatro copépodes de diferentes espécies. (Fonte: Smithsonian)
O fotógrafo comentou que o projeto “foi como uma janela para um mundo totalmente novo para mim”. Mas não apenas para ele. Suas fotos conseguiram capturar copépodes como nunca foram vistos antes. Nas imagens é possível ver as criaturas realizando diferentes atividades, como se alimentar, acasalar e escapar de predadores.
“É um projeto que não quero acabar, e provavelmente nunca vai acabar, porque cada vez que entro no mar encontro uma nova forma”, concluiu Fitor.
Dois copépodes acasalando. (Fonte: Smithsonian)
Um Safirina macho, espécie equipada com placas iridescentes nas costas, que brilham através da água ao refletir a luz do sol. (Fonte: Smithsonian)
Uma gota de água pendurada na micropipeta com um copépode bioluminescente. (Fonte: Smithsonian)