Ciência
12/03/2023 às 07:00•2 min de leitura
A primeira evidência de um El Niño data de algum momento de 1600, quando pescadores sul-americanos notaram pela primeira vez um período de água excepcionalmente quente no Oceano Pacífico. E o estudo de 2022 do Dr. Jun Ying, do Segundo Instituto de Oceanografia, do Ministério dos Recursos Naturais da China, da Universidade de Exeter, aponta que o fenômeno tende a acontecer com mais frequência ainda nos próximos anos, atingindo um pico em 2040, sendo que ações significativas de mitigação para reduzir as emissões de carbono não serão suficientes.
É por isso que os climatologistas acreditam que um El Niño próximo poderá secar a Amazônia, uma floresta que, teoricamente, é sempre úmida e impenetrável; quando, na verdade, sofre com secas periódicas quando as chuvas diminuem, estressando as árvores e fazendo os pântanos secarem.
O ecossistema devastado da Amazônia, explorado por grileiros e garimpeiros, e devastado pela queimada constantemente, pode atravessar em breve uma das piores secas de sua história.
(Fonte: O Eco/Reprodução)
Apesar de décadas de estudo, a formação do fenômeno El Niño continua sendo um enigma. O que se sabe é que ele está relacionado a dois importantes sistemas de circulação atmosférica: a Circulação de Hadley (um bolsão de correntes de ar que circula em todo o mundo nas latitudes tropicais) e na Circulação de Walker (o fluxo de ar nos trópicos na baixa atmosfera).
Durante o evento, há uma mudança significativa nas pressões atmosféricas relativas: acima do Sudeste Asiático, a pressão aumenta, enquanto diminui no Pacífico Central. Sendo assim, os ventos predominantes enfraquecem, diminuindo o transporte de água de leste para oeste, com as mudanças nas pressões do ar progredindo à medida que a relação leste-oeste é invertida.
(Fonte: Poder 360/Reprodução)
Com isso, um sistema de alta pressão é formado sobre o Sudeste Asiático e um de baixa pressão sobre o Pacífico Central. Os ventos que sopram para o oeste enfraquecem e a direção pode até ser invertida. Como resultado, a água quente da superfície flui do Sudeste Asiático para a América do Sul, geralmente produzindo bastante chuva na costa oeste seca da América do Sul. A água da superfície no Pacífico equatorial fica mais quente que a média e os ventos do leste sopram mais fracos do que o normal.
O nome El Niño foi cunhado pelos pescadores sul-americanos, que perceberam o fenômeno pela primeira vez no século XVII e colocaram esse nome (niño significa "criança" em espanhol) em referência ao menino Jesus, porque o fenômeno atinge seu pico na época do Natal. Atualmente, os cientistas se referem ao El Niño como ENSO (El Niño-Southern Oscilation).
(Fonte: Revista Galileu/Reprodução)
Nos últimos anos, o planeta testemunhou uma diminuição nas condições frias de La Niña, o fenômeno oposto ao El Niño, dando lugar às condições quentes dele. Para a Amazônia, no entanto, isso significa seca.
O evento da temporada de 2015-16, que carregou a maioria das características de um El Niño, afetou milhares de pessoas em todo o mundo, inclusive na África, América Central, Sudeste Asiático e nas Ilhas do Pacífico. Essas pessoas sofreram com chuvas abaixo ou acima da média, inundações, aumento da insegurança alimentar, taxas mais altas de desnutrição e tiveram os meios de subsistência devastados.
(Fonte: Al Jazeera/Reprodução)
Durante o período do fenômeno, as temperaturas da água no Oceano Pacífico (equatorial e oriental) estavam mais de 2 °C acima da média, como aconteceu apenas nos eventos de 1982-83 e 1997-98.
E como observado por Juan Carlos Jiménez-Muñoz, físico e especialista em sensoriamento remoto da Universidade de Valência, o El Niño de 2015-16 gerou a temperatura do ar mais alta do século passado.
Uma vez que o El Niño na Amazônia costuma suprimir a chuva, é esperado uma seca generalizada. Vale ressaltar, no entanto, que cada fenômeno é diferente, e ainda é muito cedo para dizer quão severo o El Niño de 2023 será.