Ciência
15/03/2023 às 12:00•2 min de leitura
Katsuhiko Hayashi, professor na Universidade de Osaka, desenvolveu uma técnica para transformar cromossomos sexuais masculinos em femininos. A pesquisa foi realizada com camundongos, mas ele espera que no futuro possa ser utilizada para ajudar pessoas com problema de fertilidade ou casais do mesmo sexo a terem filhos biológicos.
O estudo ainda está em fase inicial e pode levar até uma década para poder ser replicado em humanos com segurança. Mas este ainda não deve ser o próximo passo, pois o processo seria muito mais complexo, segundo George Daley, da Harvard Medical School — que não está envolvido na pesquisa. Como a formação de células reprodutivas em humanos é mais complexa, o resultado também pode gerar embriões com má-formação
(Fonte: Getty Images)
Para conseguir realizar a modificação celular, Hayashi primeiro precisou pegar uma célula da pele de um camundongo macho e depois transformá-la em uma célula-tronco. As células masculinas possuem cromossomos XY. Hayashi e sua equipe excluíram o cromossomo Y e duplicaram o cromossomo X, formando um para XX — padrão presente nas células femininas. Esse ajuste permitiu que a célula-tronco fosse programada para se tornar um óvulo funcional.
Porém, o próprio Hayashi comentou durante o evento no qual apresentou os resultados iniciais da sua pesquisa, que o trabalho está em um estágio muito inicial. Segundo ele, os óvulos obtidos eram de baixa qualidade e a técnica não poderia ser usada com segurança em humanos nesta fase.
Apesar disso, ele acredita que em uma década a técnica já deverá ter avançado para um estágio mais seguro e possível de ser replicado em humanos. A sua expectativa é que ela possa ser usada como um tratamento de fertilidade para homens e mulheres e também para casais do mesmo sexo, se for comprovado que é seguro usá-lo.
"Mesmo em camundongos há muitos problemas na qualidade do óvulo", explicou Hayashi. "Portanto, antes de pensarmos em usar em humanos, como um tratamento de fertilidade, temos que superar esses problemas, o que pode levar muito tempo".
(Fonte: Getty Images)
Além das questões biológicas envolvendo o estudo, pesquisadores de outras áreas também apontaram para conflitos culturais que podem impactar ou contribuir para o avanço do trabalho de Hayashi.
Segundo Alta Charo, professora de direito na Universidade de Wisconsin Maddison, algumas sociedades acreditam que a descendência genética é importante quando se discute paternidade ou maternidade. Nesses casos, para casais homoafetivos, a técnica desenvolvida por Hayashi poderá representar um avanço importante.
Em outros casos, esse pode não ser um elemento importante e a adoção de crianças cumpre a finalidade de constituir famílias. "Para essas pessoas, as famílias são mais sobre o relacionamento pessoal e menos sobre a conexão biológica", explica Charo. Portanto, a pesquisa não traria o mesmo impacto.