Como funciona o cérebro dos gênios?

Albert Einstein, Ludwig van Beethoven, Lionel Messi, Aristóteles, Emmy Noether e por aí vai. Esses são alguns nomes de pessoas qualificadas como "geniais" por se destacarem em seus ramos de trabalho e demonstrarem um nível de inteligência — cada um em seu sentido — acima dos demais.

Afinal, pensar "fora da caixa" não é exatamente uma habilidade com a qual todo ser humano nasce. Mas o que realmente difere os gênios de uma pessoa comum? Quando esse é o assunto, o tópico pode gerar debate até mesmo entre os pesquisadores contemporâneos mais renomados. Para se aprofundar nesse tema, nós fomos atrás de mais respostas.

Sociedades de Alto QI

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Para determinar quem é ou não um gênio, o teste padrão adotado tende a ser os que medem o quociente de inteligência de um indivíduo, mais conhecidos como testes de QI. Pelo mundo, existem algumas sociedades de alto QI restritas para pessoas que conseguem atingir um grande percentual pré-determinado pelas provas.

Diferentes sociedades aceitam métodos de entrada diversos. Enquanto algumas optam por testes padronizados feitos por psicólogos, como a Raven Matrizes Avançadas e a WAIS, outras possuem como critério a aplicação de testes desenvolvidos pelos próprios membros e fundadores, que não são necessariamente validados por psicólogos.

Na imprensa internacional, ouvimos falar muito sobre a Mensa International — a maior e mais antiga sociedade de alto QI do mundo. No entanto, a Triple Nine Society (TNS), que foi fundada em 1978, é conhecida por reunir pessoas cujo nível de inteligência tem um percentil igual ou superior a 99,9. Isso a torna a sociedade mais restrita do mundo em termos de QI. Para entender mais sobre o assunto, o Mega Curioso entrevistou alguns de seus participantes.

Qualificação como gênio

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Atualmente, o presidente da TNS é o dr. Thorsten Heitzmann, um médico suíço-alemão. Segundo ele, a Triple Nine Society define a capacidade de ingressar simplesmente pelo resultado de um teste de QI adequado. "Existem outras sociedades que aceitam testes para levar para casa, mas acho que isso é um convite à fraude", declarou. 

Heitzmann conta que percebeu sua genialidade ainda muito jovem, mas sempre pensou que as pessoas ao seu redor estavam se segurando intencionalmente ou fingindo não entender tópicos que para ele soavam simples. Portanto, continuou imaginando ser igual a todos por muitos anos.

"Olhando para trás, as coisas ficam muito mais claras. Muitas vezes eu era um estranho. Geralmente muito querido pelos outros, mas nunca no centro de um grupo", desabafou. Na visão dele, pertencer a uma sociedade de alto QI é uma maneira mais fácil de conhecer pessoas que não precisam de explicações. Enquanto muitos dos membros sempre apresentaram comportamentos que pareciam esquisitos para pessoas "normais", estar em um grupo de semelhantes pode ser algo reconfortante.

Conversão do QI em inteligência

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Ao avaliarmos uma pessoa como gênio, os testes de QI são a única alternativa para se medir inteligência? De acordo com o presidente da TNS, a resposta é sim. "Pelo menos no que eu entendo por inteligência, essa é a única maneira possível. Muitas vezes as pessoas parecem pensar que precisam inventar algo mais, como a 'inteligência emocional'. No entanto, essa é apenas uma forma de abusar da palavra 'inteligência'", explica.

No entanto, ser inteligente não é sinônimo de genialidade. Heitzmann conta que todo gênio precisa de uma faísca ou alguma habilidade para entrar no fluxo e criar algo extraordinário. "Einstein aparentemente tinha isso, mas Ronaldinho Gaúcho também. Acho que ambos foram gênios à sua maneira e isso não tem nada a ver com QI alto".

Essa é a mesma linha de raciocínio aplicada pelo dr. Fabiano de Abreu Agrela, o brasileiro pós-PhD em Neurociências que foi eleito membro do Sigma XI, a sociedade de cientistas mais restrita do mundo. "Penso em genialidade como uma alta capacidade criativa. A capacidade de pensar e fazer algo nunca antes feito ou não antes aprendido mas que surgiu num processo criativo", afirma.

Fabiano é membro de quatro sociedades de alto QI, incluindo a Mensa International e a Triple Nine Society. Com mais de 50 estudos publicados e já tendo estudado o cérebro de pessoas inteligentes, ele crê que entrar para esses grupos foi uma importante forma de "encontrar os meus pares e me sentir livre e à vontade". 

Gênios ou superdotados?

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Outro assunto que costuma causar muita confusão na mídia é a diferenciação entre pessoas geniais e superdotadas. Afinal, como dividir os dois grupos? Tanto o dr. Fabiano de Abreu quanto Heitzmann pensam que nem todos os superdotados são gênios, nem todos os gênios são superdotados.

"Um gênio pode reunir suas habilidades e circunstâncias especiais, uma centelha intelectual, rapidez de pensamento e um pressentimento sobre o que fazer — tudo isso para criar algo muito especial. Nem toda pessoa dotada pode fazer isso, é claro. E nem todo gênio precisa ser dotado", conta o presidente da TNS.

Para o dr. Fabiano de Abreu, o Brasil, inclusive, apresenta algumas falhas nesse processo e falta de rigor nos testes de alto QI que qualificariam uma pessoa como genial. "Uma aluna minha em neurociências, que é uma neuropsicóloga renomada, me mostrou uma criança cujo teste de QI no Brasil resultou em 140 e no alemão 120. A mesma criança. Isso já diz muito. Penso que no Brasil deveria ter mais critérios para os profissionais que sejam realmente habilitados a aplicar testes. Há muitos testes duvidosos", rebate.

Heitzmann, por sua vez, ressalta que é impossível declarar alguém como gênio apenas por causa de um QI alto. "Já conheci muitas pessoas com QI muito alto que claramente não são gênios. Eu não sou um gênio. Muitas vezes consigo fazer as coisas melhor e mais rápido do que muitos outros, mas um gênio é alguém com uma visão especial e não apenas um QI alto". Assim, concluímos que a genialidade é algo que vai muito além da proficiência em testes, como uma forma diferenciada de ver o mundo.