Ciência
02/05/2023 às 06:30•2 min de leitura
Por mais que vermes e seres humanos estejam separados por 500 milhões de anos na escala evolutiva dos seres vivos, temos uma peculiaridade em comum: a reação de nossos corpos à maconha. Assim como nós, as lombrigas também ficam com "larica" — uma sensação de fome incontrolável — ao serem expostas a um composto que atua no mesmo receptor cerebral do THC.
Segundo pesquisadores da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, os nematoides não apenas ficam com larica, mas também a desenvolvem pelos mesmos processos que os mamíferos. Ficou curioso para saber mais sobre essa intrigante relação? Veja mais ao longo dos próximos parágrafos!
(Fonte: Getty Images)
Um dos efeitos mais conhecidos da cannabis entre os seres humanos é um intenso aumento do apetite nas horas após o consumo, o que acabou sendo apelidado de "larica". A maconha, ou as flores secas da planta Cannabis sativa, contém uma classe de substâncias químicas chamadas de canabinoides.
Esses canabinoides incluem o principal composto por trás dos efeitos psicoativos da erva, o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), que se ligam a receptores no cérebro. Dessa forma, essas moléculas produzidas por plantas imitam a ação de moléculas produzidas pelo corpo humano, chamadas endocanabinoides.
Os endocanabinoides são conhecidos por regular o apetite e a ingestão de alimentos. Em geral, estudos anteriores mostram uma forte ligação entre os receptores de canabinoides e a fome em humanos e mamíferos. No entanto, os efeitos dessas substâncias em invertebrados, como os nematoides, ainda é pouco compreendido, o que gerou uma grande surpresa nos pesquisadores.
(Fonte: Getty Images)
Em um estudo publicado na revista Current Biology, o pesquisador Shawn Lockery e seus colegas trataram uma espécie de lombriga chamada Caenorhabditis elegans com um endocanabinoide e estudaram sua resposta aos alimentos. Ao se alimentar de bactérias em matéria vegetal em decomposição, essas lombrigas produzem alguns dos mesmos endocanabinoides observados em mamíferos, como a anandamina e 2-araquidonoilglicerol (2-AG).
Ao serem expostos a altas concentrações de anandamina por 20 minutos, os vermes receberam a opção de ingerir cinco tipos de bactérias diferentes. Essas bactérias diferem em termos de rapidez com que causam o crescimento dos nematoides uma vez que são ingeridas. No final do estudo, foi possível notar que as lombrigas "chapadas" possuíam uma preferência por bactérias promotoras de crescimento.
Em comparação com outros vermes não tratados com canabinoides, os animais dopados com anandamina apresentaram uma preferência por esse tipo de bactéria com maior frequência. Essas observações sugerem que os endocanabinoides fizeram com que os vermes não apenas preferissem alimentos que promoviam o crescimento, mas também a comê-los rapidamente.
Essa experiência compartilhada da "larica" não apenas conecta nematoides e humanos ao longo do tempo evolutivo, mas também sugere que o sistema endocanabinoide provavelmente desempenha funções semelhantes em muitas espécies animais e que essas funções são essenciais para a sobrevivência dessas espécies.