Ciência
03/05/2023 às 02:00•3 min de leitura
Mergulhar por lazer já exige certos cuidados. Mas quando falamos de mergulhar para trabalhar em plataformas de petróleo, no fundo do mar, o assunto é bem diferente. Em águas tão profundas, a pressão sobre o corpo dos mergulhadores é imensa e muitos cuidados são necessários para que eles sobrevivam.
Uma forma de lidar com isso é descer ou subir lentamente, de modo que o organismo consiga se adequar às mudanças de pressão. Mas isso demanda muito tempo, tornando o trabalho nas plataformas de petróleo impraticável. Então, a solução é o chamado mergulho de saturação.
Basicamente, os mergulhadores se acostumam com a pressão apenas uma vez — e convivem com ela por todo o tempo necessário para seu trabalho. Para manter essa pressão, eles vivem em câmaras pressurizadas por até 28 dias.
É algo extremamente arriscado que exige muita especialização. Afinal, qualquer erro pode ser fatal. Como aconteceu em novembro de 1983, quando um grupo de cinco mergulhadores morreu na plataforma de petróleo Byford Dolphin. Diz-se que eles não sentiram dor — mas o acidente continua sendo uma das histórias mais horríveis de que temos registro.
(Fonte: Josef Pavlik/Wikimedia Commons)
A plataforma Byford Dolphin estava extraindo petróleo do Mar do Norte, na costa da Noruega. Quatro mergulhadores estavam em duas câmaras pressurizadas, preparados para o mergulho saturado. Com eles, outros dois mergulhadores faziam a operação do sino de mergulho — uma outra câmara, onde eles entravam para descer até o fundo do oceano.
Era muito importante que os quatro mergulhadores entrassem no sino e só tivessem contato com o ambiente no fundo do mar, para evitar a descompressão. Sendo assim, os profissionais responsáveis pelo sino deveriam seguir um procedimento padrão:
No sábado, 5 de novembro de 1983, dois mergulhadores de saturação voltaram do trabalho no fundo do mar, saíram do sino de mergulho e entraram na câmara pressurizada. Como mandava o procedimento, a porta do sino foi fechada e a pressão foi aumentada para selar a abertura.
Porém, antes que o terceiro passo — fechar a porta da câmara pressurizada — fosse concluído, um dos mergulhadores desconectou o sino de mergulho. Isso expôs a câmara, pressurizada a 9 atm, à pressão atmosférica comum. A descompressão explosiva foi tão forte que uma rajada de ar empurrou o sino para longe, matando um dos dois mergulhadores responsáveis por ele, além de ferir gravemente o outro.
Mas o que aconteceu com os quatro homens dentro das câmaras foi muito pior.
Representação das câmaras. (Fonte: Wikimedia Commons)
A diferença de pressão fez com que o sangue dos quatro mergulhadores dentro das câmaras fervesse instantaneamente — mais ou menos como o gás de um refrigerante que você sacode violentamente e abre em seguida. Acredita-se que as proteínas e gorduras dos corpos tenham "cozinhado", parando a circulação quase instantaneamente.
Um dos quatro mergulhadores, o que deveria fechar a porta da câmara, foi empurrado para fora pela pressão. Porém, seu corpo ficou preso na abertura e se abriu. Seus órgãos internos foram expelidos para fora com a pressão e encontrados a até 10 metros de distância do local da explosão. Quem acompanhou a cena, disse que foi como dissecar um cadáver.
Um dos profissionais responsáveis pelo sino foi considerado culpado por erro humano — já que desconectou o sino antes da hora. Contudo, as famílias dos mergulhadores discordaram da decisão: faltavam indicadores visuais para determinar a hora certa de realizar cada passo e a comunicação entre os profissionais era difícil, com o barulho na plataforma.
Desde então, os procedimentos de segurança nesse setor melhoraram bastante e o acidente na plataforma Byford Dolphin permanece como um dos mais horripilantes da história.