Ciência
05/06/2023 às 10:00•2 min de leitura
As moreias, uma família de peixe de corpo longo e cilíndrico, que moram em cavernas subaquáticas sombrias parecem estar se adaptando à escuridão do fundo do oceano com o tempo, é o que mostra um novo estudo feito por pesquisadores da Universidade de Taiwan. Conforme observado, essas criaturas estão deixando crescer pele sobre seus olhos.
A moreia-de-olhos-de-feijão (Uropterygius cyamommatus), por exemplo, é a primeira espécie de moreia conhecida por habitar cavernas anquialinas — esculpidas em rocha vulcânica. Em expedições feitas na Austrália e nas Filipinas, os cientistas encontraram dois espécimes que não tinham olhos esquerdos visíveis. Mas por que isso está acontecendo?
(Fonte: Universidade de Taiwan/Divulgação)
Na visão dos pesquisadores, o fato de diversos espécimes de moreias estarem sendo encontrados sem visão em apenas um dos seus olhos mostra que esses peixes podem estar se adaptando ao ambiente sombrio que vivem — tornando-se cegos com o tempo de um olho de cada vez.
"Apenas dois espécimes da Ilha Christmas reduziram os olhos esquerdos e não podemos saber se é natural ou se apenas danificaram os olhos depois de nascer", afirmou o autor do estudo publicado na revista Raffles Bulletin of Zoology, Wen-Chien Huang. Segundo ele, no entanto, a proporção de olhos encontrados nessa espécie sugere que isso tudo faça parte de uma adaptação natural ao ambiente de pouca luz.
Os primeiros espécimes de moreias-de-olhos-de-feijão foram capturadas pela primeira vez na Ilha de Panglao, nas Filipinas, em 2001. Os pesquisadores ainda não sabem ao certo quando essas criaturas decidiram migrar para cavernas sombrias, mas estimam que esse processo de transição esteja relacionado ao seu apetite voraz.
(Fonte: GettyImages)
Um dos grandes motivos para as moreias-de-olhos-de-feijão potencialmente terem se mudado para o fundo do mar é o fato de várias dessas cavernas profundas carregarem consigo quantidades abundantes de deliciosos crustáceos — os quais são peça fundamental na dieta das moreias. Logo, esse apetite ganancioso fez com que decidissem se mudar de vez para um ambiente mais escuro.
O reflexo dessa mudança de habitat passou a ser espelhado em seus próprios corpos, uma vez que os espécimes analisados pela Universidade de Taiwan apresentavam um olho esquerdo reduzido embutido na pele, mas sem alteração na estrutura óssea subjacente. Os pesquisadores acham que podem ter capturado a evolução em ação e que, na ausência de luz, a pele cobrindo os olhos das moreias poderia salvá-las do custo energético que a visão possui.
Cientificamente falando, inclusive, não é nem um pouco anormal que peixes vivendo em cavernas acabem ficando totalmente cegos no processo evolutivo. Segundo os registros científicos, quase todas as 300 espécies de peixes cavernosos passaram por isso. Portanto, não seria nenhuma loucura se as moreias-de-olhos-de-feijão perdessem completamente seus olhos com mais alguns anos de evolução pela frente.
Contudo, como nenhum teste genético ou molecular foi feito na espécie, os cientistas ainda não sabem ao certo se essa potencial adaptação realmente está crescendo entre a população da espécie ou se a perda de visão entre alguns indivíduos foi um mero acaso.