Ciência
06/07/2023 às 10:00•2 min de leitura
As hienas, especialmente as hienas-malhadas, apresentam um dos comportamentos reprodutivos mais complexos e fascinantes do mundo animal. Esses predadores bem adaptados da África subsaariana são reconhecidos pela sua estrutura social e ritos de acasalamento singulares, com danças de sedução complexas e potencialmente perigosas.
Os clãs de hienas-malhadas, que usualmente agrupam entre 40 a 80 membros, são dominados por fêmeas, dada sua maior envergadura e agressividade. Nesse contexto, o macho mais respeitado está abaixo da fêmea com menor respeito social. Geralmente, ao atingir a maturidade, eles deixam seus grupos de origem buscando um novo grupo. No entanto, ser aceito em um novo "lar" não é tarefa fácil, pois os machos já estabelecidos veem os recém-chegados como adversários.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Não é fácil discernir os padrões de escolha do parceiro entre estas criaturas, mas as fêmeas tendem a preferir parceiros com maior prestígio social. Visto que a ascensão no ranking social só ocorre após a morte de um macho superior - pois eles não disputam posições - elas podem usar a posição hierárquica como indicativo de persistência e aptidão.
Outro detalhe é que esses animais não têm um período de acasalamento definido, já que as fêmeas passam por diversos ciclos estrais ao longo do ano. Durante este período, os machos podem avaliar o status reprodutivo das potenciais parceiras ao farejar sua urina.
Eles então exibem comportamentos de sedução variados para atraí-las, incluindo uma estranha "dança", na qual dão alguns passos em direção à possível companheira e logo se afastam, independentemente da reação dela, para depois se aproximar novamente e permitir ser cheirado.
A anatomia sexual peculiar das fêmeas também torna o acasalamento ainda mais desafiador e singular, por contarem com um clitóris alongado e fálico - apelidado de pseudopênis ou clítoris peniforme - que utilizam para urinar, copular e parir. Para acasalar, o macho deve posicionar seu órgão sexual para cima e para trás para inseri-lo no pseudopênis, orientado para frente. Esse proeza só pode ser realizada com a concordância da fêmea, tornando o coito forçado fisicamente impraticável.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Em um evento peculiar relatado no Parque Nacional Chobe, em Botswana, um macho desfaleceu após o acasalamento com uma fêmea mais experiente. Enquanto ela parecia estar se submetendo ao processo, seu parceiro mesmo assim parecia "ter mordido mais do que podia mastigar".
Em virtude do grande porte da fêmea, o macho da hiena não conseguia realizar a cópula corretamente, e no fim, encontrava-se praticamente montado nas costas dela, com as patas traseiras mal tocando o solo. Quando o coito finalmente acabou, o esforço provou ser demais para o jovem, que acabou não só caindo, como desmaiando. Ver tal cena é raro, pois essa espécie costuma procurar lugares isolados para o acasalamento. Presenciar tal acontecimento a céu aberto é singular.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Lendas e equívocos sobre as hienas e seus comportamentos sexuais têm raízes históricas profundas. Desde tempos antigos, esses animais são objeto de admiração e desconcerto. Ernest Hemingway as descreveu como "devoradores hermafroditas dos mortos". No entanto, isso está longe de ser verdade. Machos e fêmeas possuem genética e órgãos reprodutivos distintos, a despeito do clítoris extremamente modificado.
Para concluir, o comportamento sexual desta criatura é complexo e intrigante, repleto de estruturas sociais, ritos de acasalamento e uma anatomia sexual exclusiva. Ao aprofundar nossa compreensão destes seres extraordinários, podemos começar a decifrar os enigmas de sua vida reprodutiva e admirar a beleza da diversidade no reino animal.