Artes/cultura
28/07/2023 às 02:00•2 min de leitura
Quem já leu algo sobre a Mesopotâmia, o berço de antigas civilizações, deve se lembrar do grande papel que dois rios tinham naquele local, que faziam parte do "Crescente Fértil": os rios Tigre e Eufrates, que estão entre os maiores e mais antigos da Ásia Ocidental.
Nascido onde hoje fica a Turquia, o Eufrates segue em direção da Síria e do Iraque, até que se une ao rio Tigre. Este, por sua vez, também tem sua nascente na Turquia, e segue seu percurso pelos mesmos países até o Chatt al-Arab, formado pela união dos dois rios, desembocar no golfo Pérsico.
O passado em que suas águas teriam possibilitado o avanço das primeiras civilizações, e mesmo favorecido o desenvolvimento da agricultura, no entanto, parece cada vez mais distante, visto que as águas dos rios Eufrates e Tigre, outrora tão volumosas e cheias de vida, estão secando.
Os rios Tigre e Eufrates estão situados numa região que tende a ser bastante afetada pelas mudanças climáticas. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Para se ter uma ideia da gravidade que isso representa, o Ministério de Recursos Hídricos do Iraque afirmou que, mantido esse ritmo, o Eufrates estará completamente seco até 2040. Apesar do seu expressivo potencial energético, dada a existência de reservas de gás natural e petróleo em seu território, o país enfrenta grandes dificuldades.
Considerado o quinto país do mundo mais suscetível às mudanças climáticas, o Iraque segue marcado por instabilidades, somada à invasão norte-americana em 2003 que agravou a crise interna e os entraves econômicos que geram impactos ainda hoje.
O governo, no entanto, segue à procura por soluções, o que tem motivado a busca por um acordo com a Turquia que ofereça uma melhor divisão de recursos hídricos — o que ainda permanece sem um desfecho.
Já na Síria, o rio Eufrates não desempenha um papel menos importante: estima-se que 85% da água destinada à agricultura seja proveniente dele. Considerada a principal fonte de água doce da região, em meio ao seu desaparecimento, são muitos os impactos enfrentados num local com infraestrutura bastante fragilizada desde o início da guerra civil no país.
Escassez de água amplia o risco de conflitos na região. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Conjuntamente, além de inviabilizar a permanência da população na região e perpetuar a fome, a ausência de recursos hídricos se reflete num menor acesso ao saneamento básico. Na prática, isso significa uma maior difusão de doenças. Na Síria, um surto de cólera segue se alastrando desde o final de agosto de 2022, quando os primeiros casos foram notificados.
Há dois motivos sendo apontados como os principais agravantes para a seca do rio Eufrates: a má gestão da água, refletida tanto na poluição quanto no desperdício de recursos; e as mudanças climáticas, visto que a redução gradual dos índices pluviométricos e períodos de seca mais prolongados já fazem parte da realidade da região.
Graças às medições realizadas, já sabemos que no último século a média da temperatura na Síria alcançou o aumento de 1 °C. Além disso, entre 2003 e 2013, o fluxo dos rios Tigre e Eufrates se reduziu quase pela metade nos anos mais secos. No início deste ano, apenas 30% do volume médio do Eufrates chegava ao Iraque, o que evidencia o nível alarmante em que a situação já se encontra.