Estilo de vida
28/08/2023 às 03:00•2 min de leitura
Enquanto os humanos estavam ocupados bombardeando a Terra com armas nucleares durante a segunda metade do século XX, tartarugas e jabutis ao redor do planeta seguiam suas vidas de forma silenciosa. Contudo, sem que essas criaturas soubessem, o legado dessas terríveis explosões estava ficando impresso em seus cascos.
Um novo estudo analisou de perto os cascos de tartarugas e jabutis encontrados perto de locais utilizados para testes de bombas atômicas e depósitos de lixo nuclear. Dentro das camadas de queratina presentes nesses cascos, os cientistas descobriram assinaturas claras e gritantes de urânio antropogênico — proveniente da precipitação nuclear.
(Fonte: Comissão de Energia Atômica dos EUA)
Para entender esse cenário, cientistas da Universidade do Novo México e do Laboratório Nacional de Los Alamos — o berço das primeiras bombas atômicas — coletaram cinco cascos de tartaruga encontradas em locais altamente atrelados ao uso de armas nucleares no passado.
Assinaturas incomuns de urânio foram registradas nas carapaças de uma tartaruga-verde da República das Ilhas Mashall, de uma tartaruga-do-deserto no sudoeste de Utah, de uma tartaruga de água doce na Carolina do Sul e de uma tartaruga-de-caixa encontrada na reserva de Oak Ridge, no Tennessee.
Algumas dessas assinaturas de urânio estavam intimamente alinhadas com os eventos nucleares que moldaram a história dos Estados Unidos no final da Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria. O caso encontrado em Oak Ridge, por exemplo, continha uma assinatura de urânio em seus anéis de crescimento datada para 1955 e 1962, o que está diretamente ligado à liberação aérea de urânio altamente enriquecido na região.
A carapuça das Ilhas Marshall, por sua vez, é especialmente interessante. Esse grupo remoto de ilhas serviu como local de testes no Pacífico para os EUA entre 1946 e 1958. Ao todo, a região testemunhou cerca de 67 testes nucleares, o que obviamente deixou um legado desagradável para a fauna e flora local.
(Fonte: GettyImages)
Embora as tartarugas em questão sejam um claro exemplo do passado atômico da humanidade, elas não são os únicos répteis com conchas que podem ser usados para rastrear a história das bombas atômicas. Por exemplo, esqueletos de corais e conchas de moluscos também foram usados no passado para métodos de pesquisa.
Contudo, os investigadores argumentam que tartarugas e cágados são particularmente úteis para juntar as peças da história de atividade nuclear na Terra por serem mais acessíveis aos pesquisadores. Dessa forma, grupos de pesquisa esperam que esses animais possam ser usados no futuro para novas pesquisas que falem sobre como as bombas atômicas mudaram nosso mundo.
“Estes animais estão, portanto, numa posição única para registar informações sobre as atividades humanas em paisagens nucleares a longo prazo. Prevemos que a combinação de análises de espécimes coletados historicamente e de espécimes modernos expandirá significativamente nossas capacidades de monitoramento ambiental no que se refere às questões atuais de contaminação nuclear”, concluíram os autores do estudo publicado na revista PNAS Nexus.