Ciência
30/08/2023 às 04:00•2 min de leitura
Assim como qualquer indústria, a agricultura moderna também depende bastante do uso de plásticos, como os usados nas coberturas para canteiros de vegetais, tubos de PVC que drenam a água dos campos, embalagens plásticas de sementes e por aí vai. Em um novo artigo de revisão, no entanto, investigadores da Universidade de Illinois Urbana-Champaign têm citado essa relação como problemática.
Amplamente dispersos em solos agrícolas sob a forma de microplásticos e nanoplásticos, esses materiais podem contribuir para que bactérias resistentes aos antibióticos tenham um caminho pronto para o nosso abastecimento alimentar.
(Fonte: GettyImages)
Em declaração oficial, o autor do estudo Jayashree Nath, pesquisador de pós-doutorado da Faculdade de Ciências Agrícolas, do Consumir e Ambientais (ACES), deu sua visão sobre os fatos. "O plástico em si pode não ser muito tóxico, mas pode atuar como um vetor de transmissão de bactérias patogênicas e resistentes a antimicrobianos na cadeia alimentar", disse.
De acordo com Nath, esse não é um fenômeno realmente novo no segmento, mas que é desconhecido por muitas pessoas — o que aumenta a necessidade de conscientização geral. A ligação entre microplásticos e a resistência aos antibióticos começa pelo fato de que os plásticos são excelentes absorventes.
Isso significa que substâncias químicas e organismos microscópicos adoram aderir ao plástico. Dessa forma, os produtos químicos que normalmente se moveriam rapidamente através do solo — como pesticidas e metais pesados — permanecem e concentram-se quando se encontram com esses materiais.
Quando as bactérias encontram substâncias químicas incomuns na sua nova base, elas ativam genes de resposta ao estresse que, incidentalmente, também as ajudam a resistir a outros produtos químicos, o que pode incluir os antibióticos.
(Fonte: GettyImages)
Quando grupos de bactérias se ligam à mesma superfície, eles têm o hábito de partilhar estes genes por meio de um processo chamado transferência horizontal de genes. Os nanoplásticos, que podem entrar nas células bacterianas, apresentam um tipo diferente de estresse, mas que pode ter o mesmo resultado.
"As bactérias têm evoluído mecanismos genéticos para lidar com o estresse há milhões de anos. O plástico é um novo material que as bactérias nunca viram na natureza, então agora estão evocando esses conjuntos de ferramentas genéticas para lidar com esse estresse", explicou o coautor Pratik Banerjee.
A transferência de genes entre bactérias em microplásticos foi documentada em outros ambientes, principalmente na água. No solo agrícola, no entanto, esse processo ainda é apenas hipotético, o que não quer dizer que não esteja acontecendo. Neste momento, pesquisadores estão realizando novos estudos para documentar essa transferência.
Os autores salientam que muitos agentes patogênicos de origem alimentar chegam aos produtos a partir de sua terra natal, mas nanoplásticos e bactérias super-resistentes aos antibióticos podem ser suficientemente pequenos para entrar nas raízes e nos tecidos das plantas — onde são impossíveis de serem eliminados. Dessa forma, esse é o momento para compreendermos essa nova relação e buscarmos alternativas para que a situação não fuja do controle.