Saúde/bem-estar
22/10/2023 às 06:00•2 min de leitura
Em um estudo recente publicado na revista Royal Society Open Science, dois pesquisadores do Museu de História Natural de Berlim, na Alemanha, mostram que, ao contrário do que se pensava anteriormente, as fêmeas de rãs-comuns europeias (Rana temporaria) não se entregam passivamente ao assédio sexual de machos violentos.
Em vez disso, a pesquisa registra "três comportamentos de evitação femininos, nomeados 'rotação', 'soltar chamada(s)' e 'imobilidade tônica' [fingir-se de morta]". Essas reações buscam evitar o risco de mortalidade de fêmeas durante as sessões de reprodução explosiva, nas quais determinadas populações de anfíbios saem juntas no mesmo lugar, juntando milhares de machos e fêmeas para a reprodução.
Durante esses eventos naturais de acasalamento, não é incomum que vários machos agarrem uma mesma fêmea, que nem sempre consegue se livrar dessas abordagens indesejadas (assédio, cópula forçada, intimidação) e tenha sua sobrevivência ameaçada.
Para desenvolver sua pesquisa, os cientistas recolheram machos e fêmeas de rãs-comuns europeias de um lago durante a época do acasalamento. Em seguida, dividiram os anuros em tanques de água, de forma a deixar em cada um deles duas fêmeas e um macho. O comportamento deles foi filmadao durante uma hora.
Das 54 fêmeas seguradas por um macho que tentava acasalar, 83% usaram a técnica de rotação, definida no estudo como "uma fêmea começando a girar em torno do eixo de seu próprio corpo quando amplexada [abraçada] por um macho, enquanto este tenta neutralizar a rotação com as patas traseiras". Foram feitos dois chamados, imitando "chamados de soltura" feitos por machos para evitar serem montados por rãs do mesmo sexo.
Finalmente, 33% das rãs-comuns fêmeas adotaram a imobilidade tônica, ou tanatose, uma estratégia de simulação de morte muito adotada por algumas presas para enganar seus predadores. Para a primeira autora do artigo, Carolin Dittrich, “parece que a fêmea está se fingindo de morta, embora não possamos provar que é um comportamento consciente”.
(Fonte: Getty Images)
Concluído o experimento, o que se observou foi que rãs fêmeas de menor tamanho, geralmente mais jovens, são mais predispostas a usar todas as técnicas de dissuasão, ao passo que as fêmeas mais velhas, com uma estrutura física mais desenvolvida, eram menos propensas a se fazerem de mortas. Com isso, as rãs menores tiveram mais sucesso em escapar dos riscos da reprodução explosiva.
É possível, dizem os autores, que por terem vivido menos episódios reprodutivos, as fêmeas jovens se estressam mais ao serem montadas por machos, deflagrando seus comportamentos evasivos. Na pesquisa, 46% de fêmeas montadas por um único macho conseguiram escapar com sucesso.
A compreensão desses comportamentos de acasalamento é importante, segundo Dittrich, para desenvolver trabalhos de conservação no futuro. Apesar de mais abundante do que a maioria das espécies, "tem havido uma diminuição constante no número da população nos últimos 17 anos devido à falta de chuvas e às secas", afirma a pesquisadora.