Ciência
15/01/2024 às 08:00•2 min de leitura
Composta por uma floresta diversificada e com árvores de grande dimensão, a Amazônia esconde hoje áreas que, no passado, deram vida a cidades, derrubando a teoria que essa região teria sido pouco habitada. É o que atesta uma pesquisa conduzida ao longo de anos que foi publicada na revista Science neste mês de janeiro.
Muitos anos atrás, na década de 1970, o arqueólogo Stéphen Rostain havia encontrado evidências de antigas estradas e montes de terra em áreas situadas no interior da floresta, no Equador. E graças a mapeamentos realizados com uma tecnologia que utiliza sensor a laser, acoplado a um avião que explorou uma grande região, foi possível revelar o que estava oculto sob as árvores.
A partir desse trabalho, pesquisadores descobriram que esses locais, no passado, deram vida a cidades de grande dimensão e com uma estrutura bastante complexa.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
Cinco grandes assentamentos foram identificados no interior da floresta amazônica, com tamanho estimado de 300 quilômetros quadrados. No centro deles, foi localizada uma praça. Essas antigas cidades evidenciam que, no passado, as civilizações que ocuparam essa área não eram nômades, mas viviam em cidades com campos agrícolas e muito bem estruturadas.
Diversos cultivos estariam presentes, como mandioca, milho, feijão e batata-doce — algo que já havia sido considerado a partir de escavações realizadas anteriormente na região. Outros dez assentamentos menores ainda foram localizados. Construções em madeiras totalizam mais de 6 mil plataformas de terra, com 2 metros de altura, em média. A maior delas teria 5 metros, e os estudiosos acreditam que seriam de construções destinadas a fins cerimoniais.
Estradas de grande dimensão, com 10 metros de largura e até 20 quilômetros de extensão também foram encontradas, usadas para ligar áreas residenciais a outras. Considerando o relevo mais elevado em determinadas áreas, pesquisadores se surpreenderam com o trabalho realizado para deixar as estradas planas.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
Estudos futuros ainda poderão confirmar se a maior dessas estradas tem continuação, e mesmo se há vestígios de outras estruturas presentes. Calçadas com valas em seus dois lados também foram construídas, possivelmente utilizadas como canais, para o transporte de água, bastante abundante nessa região do planeta.
Acredita-se que essas cidades tenham sido ocupadas entre 600 a.C. e 500 d.C. — ou seja, elas seriam pertencentes a civilizações anteriores às existentes em Machu Picchu e ainda mais antigas que as existentes durante o famoso Império Romano. Esses povos teriam habitado essas cidades por volta de mil anos, acreditam os pesquisadores.
Especula-se ainda que um antigo vulcão tenha exercido um papel importante no desenvolvimento dessas localidades, uma vez que contribuiu com a oferta de solos mais férteis. No entanto, ele também pode ter destruído esses povos, já que há cinzas vulcânicas espalhadas, e o motivo do desaparecimento das sociedades permanece desconhecido.
Dado o conjunto das evidências encontradas, apesar de ser difícil apontar um número preciso, acredita-se que pelo menos 10 mil pessoas viviam nessas antigas cidades amazônicas. E como não sabemos muito sobre esses povos e seus costumes, já podemos dizer que essa descoberta representa o início de um novo capítulo da América do Sul a ser explorado.