Ciência
05/02/2024 às 06:30•2 min de leitura
A acácia-espinhosa é uma árvore característica da savana queniana, coberta tanto por longos espinhos pontiagudos quanto por um grupo de formigas nativas que vivem em seus galhos. Inclusive, as plantas dela são parte fundamental do ecossistema da savana, proporcionando cobertura para os leões perseguirem as suas presas.
Contudo, esse mesmo ecossistema está agora sofrendo uma mudança crítica graças a uma espécie diferente e rastejante: a invasora formiga-cabeçuda. Conhecidas por assassinarem as formigas nativas que moram nas acácias, esses insetos estão mudando drasticamente diversas relações animais na natureza do Quênia.
(Fonte: GettyImages)
Normalmente, as formigas nativas que vivem nas acácias-espinhosas protegem as árvores dos elefantes, que usam suas trombas para se alimentar. Porém, nos últimos anos, esses insetos e seus filhotes estão sendo devorados pelas formigas-cabeçudas que invadiram a região e provavelmente foram importadas do Oceano Índico em alqueires de produção.
Isso significa que as árvores se tornaram vulneráveis aos elefantes, que de fato têm destruído diversos exemplares sete vezes mais rápido do que aqueles que eram protegidos por formigas nativas. Isso também é um problema para os leões, que usam as acácias como cobertura para caçar zebras.
De acordo com um estudo recente publicado na Science, os leões tiveram que alterar as suas escolhas de presas. Com isso, as mortes de zebras diminuíram, enquanto búfalos-americanos passaram a ser os alvos principais. A pesquisa, realizada no condado de Laikipia, no Quênia, acompanhou alguns fatores: visibilidade da paisagem, população de zebras, população de formigas-cabeçudas e zebras mortas por leões.
“Os leões não foram particularmente prejudicados, apenas tiveram de mudar a sua preferência de presa”, disse um dos autores do estudo e diretor do Centro de Pesquisa de Leões da Universidade de Minnesota, Craig Packer. Segundo ele, este estudo é apenas um passo no que deveria ser uma visão mais ampla do ecossistema do país e em outras partes da África.
(Fonte: GettyImages)
Segundo Packer, a acácia-espinhosa é, na verdade, considerada uma espécie de praga em vários lugares na África Oriental. A árvore está contribuindo para a invasão de matos, onde os prados são substituídos por vegetação lenhosa — o que leva a uma diminuição da população de animais de pastoreio. Nesse sentido, o trabalho invasivo feito pelas formigas-cabeçudas pode não ser tão devastador assim.
“Numa visão mais ampla, a formiga-cabeçuda pode, de certa forma, ajudar a reverter a invasão dos arbustos, o que seria bom para muitas espécies de presas do leão”, disse Packer. Dessa forma, é possível que cresça algum outro tipo de cobertura vegetal que seja ainda melhor para lidar com os elefantes do que as acácias-espinhosas, o que também proporcionaria um novo espaço para os leões perseguirem suas presas.
Embora essas possibilidades propostas continuem a ser vistas com base em mais tempo e investigação, as formigas invasoras tiveram certamente um impacto grande na paisagem e na vida selvagem do Quênia. No futuro, novas investigações poderão mostrar como todas as criaturas vivas nesse ecossistema lidaram com essas mudanças.