Saúde/bem-estar
06/02/2024 às 10:00•2 min de leitura
A migração do Homo sapiens, saindo da África e se espalhando pelo mundo, teve início há cerca de 190 mil anos. Desde então, nossos antepassados deixaram uma série de rastros que nos permitem compreender melhor como se deu esses movimentos migratórios.
Agora, uma descoberta recente está servindo para podermos escrever um novo capítulo dessa história. Foram encontrados no nordeste da Ásia, fragmentos de rochas e ossos antigos, criados por Homo sapiens, indicando a nossa presença há muito mais tempo do que acreditávamos anteriormente.
Algumas das ferramentas de pedra de Shiyu, esculpidas pelo método Levallois. (Fonte: ScienceAlert)
Um estudo multidisciplinar do sítio arqueológico Shiyu, no norte da China, revelou um complexo registro humano. Amostras coletadas sugerem que o Homo sapiens já estava estabelecido na região há cerca de 45 mil anos.
A descoberta é importante por dois motivos. O primeiro é a data em si, pois seria a prova de que nossos antepassados chegaram no local há muito mais tempo do que imaginávamos. Além disso, ela sugere que o compartilhamento de informações já era uma prática comum desde aquela época.
O arqueólogo da Universidade de Bordeaux, Francesco D'Errico, explica que “o sítio reflete um contato entre sociedades e povos realocados — misturando características herdadas com inovações”. Isso muda completamente a nossa compreensão sobre as migrações do Homo sapiens e suas práticas culturais.
As primeiras escavações em Shiyu ocorreram em 1963 e renderam milhares de objetos entre artefatos de pedra, pedaços de ossos e dentes e um pedaço de osso craniano identificado como pertencente ao Homo sapiens. Parte do material acabou se perdendo com o tempo, mas uma nova escavação permitiu que novos itens fossem descobertos.
Reconstrução dos "caçadores de cavalos" de Shiyu. (Fonte: IVPP)
O atual estudo faz parte de uma colaboração entre pesquisadores da China, Austrália, França, Espanha e Alemanha. Materiais descobertos recentemente — e alguns dos que não se perderam da escavação original — foram submetidos a datação por radiocarbono e luminescência estimulada por luz. Com isso foi possível datar as amostras retiradas entre 45.800 e 43.200 anos atrás.
A análise dos artefatos revelou uma variedade de habilidades tecnológicas, como a técnica Levallois para lascar pedra, desenvolvida na Europa há cerca de 250 mil anos. A coleção também inclui pontos de projéteis tangenciais e com empunhadura, com evidências de fraturas de impacto, sugerindo habilidade de caça.
Havia também obsidiana que só poderia ter sido obtida de uma grande distância, pelo menos 800 a 1 mil quilômetros, sugerindo comércio, viagem ou ambos. Já os ossos de animais eram, na sua maioria, de equídeos. Muitos deles mostravam marcas de corte, sugerindo que os habitantes do sítio de Shiyu eram caçadores habilidosos e que caçavam cavalos.
“A mistura de traços culturais diversos significa uma adaptação complexa e inovadora de nossos antepassados durante sua expansão”, explicou o paleoantropólogo Shi-Xia Yang, da Academia de Ciências da China e líder da pesquisa.
Combinado com o fragmento de crânio ainda perdido, a descoberta representa uma peça importante da história humana. Ela demonstra que nossos antepassados, não apenas foram capazes de fazer uma longa migração num passado remoto, como também eram capazes de manter uma intrincada rede de comércio e trocas culturais.