Estilo de vida
21/09/2024 às 06:00•2 min de leituraAtualizado em 21/09/2024 às 06:00
O quadro A Noite Estrelada, do pintor holandês Vincent van Gogh, é uma das obras mais famosas da história da arte. Criado em 1889, o quadro retrata a vista da janela de um quarto do hospício de Saint-Rémy-de-Provence, pouco antes do nascer do sol.
Milhares de pessoas já ficaram fascinadas diante desta intrigante peça de van Gogh, que mostra um céu agitado e rodopiante. Agora, uma análise mais aprofundada mostrou mais detalhes surpreendentes: as pinceladas da obra-prima são consistentes com a dinâmica de fluidos da atmosfera da Terra.
A análise foi elaborada por uma equipe liderada pelo físico Yinxiang Ma da Universidade de Xiamen, na China, e mostra que o mais famoso quadro de Vincent van Gogh obedecia a certas leis da física, que não são enxergadas a olho nu. Isso porque a atmosfera da Terra é uma massa de fluido em constante movimento, mudança e em turbulência, o que só pode ser visualizado a partir de instrumentos que mapeiam seus movimentos.
De acordo com o físico Yongxiang Huang, da Universidade de Xiamen, a pintura revela uma compreensão profunda e intuitiva dos fenômenos naturais. "A representação precisa da turbulência de van Gogh pode ser proveniente do estudo do movimento das nuvens e da atmosfera ou de um senso inato de como capturar o dinamismo do céu", afirma o professor.
Embora essa turbulência atmosférica no quadro de van Gogh não possa ser medida, a equipe de cientistas mediu as pinceladas para ver se elas combinavam com pontos levantados em estudos anteriores. Em seguida, eles constataram que a turbulência exibida na pintura se mostra também consistente com a teoria publicada pelo matemático soviético Andrey Kolmogorov na década de 1940.
"Nosso resultado sugere que van Gogh fez uma observação muito cuidadosa dos fluxos reais, de modo que não apenas os tamanhos dos redemoinhos em A Noite Estrelada, mas também suas distâncias relativas e intensidade seguem a lei física que governa os fluxos turbulentos", escreveram os autores no estudo.
Para poder chegar a essa conclusão, os pesquisadores usaram uma imagem digital de alta resolução para poder analisar as pinceladas nos 14 redemoinhos no céu de A Noite Estrelada. Eles observaram cuidadosamente as propriedades espaciais em cada uma delas, o que incluía a luminância da tinta, para poder compará-las à teoria da turbulência de Kolmorogov, que descreve como a energia flui constantemente de redemoinhos maiores para menores antes de se dissipar.
Além disso, os pesquisadores também verificaram que a pintura era consistente com o espectro de potência dos escalares, segundo a teoria de 1959 consolidada pelo matemático australiano George Batchelor. O cientista foi quem descobriu que os escalares (que são propriedades físicas que mostram como a energia de um fluido turbulento é transferida de grandes para pequenas escalas de movimento) devem exibir um espectro de potência correspondente ao seu tamanho.
Todas essas novidades complementam estudos anteriores feitos sobre A Noite Estrelada. Um deles, por exemplo, verificou que a turbulência mostrada no quadro pode ser vista nas nuvens moleculares no espaço, que é onde as próprias estrelas nascem. Assim, essa nova análise confirma que van Gogh, além de ter sido um excelente artista, pode também ter acumulado profundos conhecimentos de física.