Ciência
26/11/2024 às 12:00•3 min de leituraAtualizado em 26/11/2024 às 17:05
Arqueólogos descobriram na necrópole de South Asasif, em Luxor, uma tumba de 3.800 anos do Império Médio, contendo restos de várias gerações de uma mesma família. Com onze sepultamentos e uma rica coleção de joias e amuletos, a tumba é a primeira desse período encontrada na região e oferece uma nova visão sobre os rituais e crenças funerárias do antigo Egito.
A tumba, associada ao período próspero do Império Médio, abrigava cinco mulheres, dois homens, três crianças e um indivíduo de sexo indefinido. Os mortos foram originalmente envoltos em linho e sepultados em caixões de madeira, mas séculos de inundações deterioraram os caixões, deixando como legado o conteúdo mais durável: uma bela coleção de joias e artefatos que resistiram ao tempo.
Os arqueólogos descobriram colares, anéis, pulseiras, espelhos e amuletos, todos simbolizando a importância espiritual e social da família. Entre os itens mais intrigantes estava um colar de ametista com 30 contas e um amuleto central em forma de pássaro, o "Ba", representando a alma, um conceito fundamental na crença egípcia sobre o espírito humano.
Outro artefato único é um espelho de cobre com uma alça de marfim em forma da deusa Hathor, representada com quatro rostos. Hathor, ligada à fertilidade, à alegria e ao amor, era uma figura reverenciada pelos egípcios, o que indica que a família valorizava sua conexão espiritual e proteção na vida após a morte. Os espelhos, presentes em dois sepultamentos femininos, sugerem o apreço pela estética e a importância da representação da identidade até no pós-vida.
As joias encontradas na tumba, feitas de materiais como cornalina, granada, faiança e ametista, demonstram a riqueza e o gosto da família por adornos sofisticados. Colares elaborados, cintos e pulseiras com amuletos em formas de animais como hipopótamos e falcões indicam também uma conexão profunda com os deuses egípcios e a crença no poder protetor desses elementos.
Segundo a Dra. Elena Pischikova, que lidera o projeto de conservação, esses amuletos e adornos são característicos do Império Médio e mostram como o estilo de vida refinado se refletia até mesmo nos acessórios funerários.
Outro achado que chamou a atenção foi uma estatueta de fertilidade em faiança (tipo de cerâmica) esmaltada em tons de verde e azul. A figura apresenta uma característica curiosa: tinha pequenas perfurações onde foram fixadas cerca de 4 mil contas de lama que, acredita-se, formavam seu cabelo original. Esses detalhes minuciosos revelam um apuro artesanal e um simbolismo forte, uma vez que a fertilidade era um valor altamente estimado pelos egípcios.
Ao lado dessa estatueta, uma mesa de oferendas esculpida com relevos de cabeça de touro, pães e outras oferendas foi descoberta, sugerindo rituais associados à prosperidade e à sobrevivência espiritual.
Os pesquisadores também notaram que as crianças e um dos homens foram enterrados sem nenhum bem funerário, sugerindo uma hierarquia até entre os membros da família. Em contraste, um dos homens exibia um colar de faiança com um amuleto em forma de cabeça de hipopótamo, demonstrando a variação nos adornos funerários e nas representações de status dentro da própria tumba.
A descoberta transformou a necrópole de Asasif em um importante local funerário do Império Médio. Segundo o egiptólogo Mohamed Ismail Khaled, essa tumba altera o contexto histórico da área, antes associada à 25ª Dinastia, revelando novas informações sobre práticas funerárias e organização social no antigo Egito.
A missão ainda planeja continuar as escavações na esperança de descobrir mais informações sobre os rituais e práticas do Império Médio. Cada novo detalhe encontrado na tumba fornece uma janela para a vida, as crenças e as tradições de uma família que, há quase quatro mil anos, repousa sob as areias de Luxor.