Ciência
18/11/2024 às 21:00•2 min de leituraAtualizado em 18/11/2024 às 21:00
Com o envelhecimento, muitas preocupações relacionadas à saúde surgem, e a demência é uma das que mais assusta. De acordo com um estudo de 2023, uma das formas de reduzir o risco desse problema está, literalmente, no nosso sono. Pesquisadores descobriram que a falta do chamado sono profundo, ou sono de ondas lentas, aumenta em 27% o risco de desenvolver demência a cada 1% de perda anual desse estágio. E o alerta é especial para quem tem mais de 60 anos, já que esse tipo de sono tende a diminuir com a idade.
Esse estágio específico de sono ocorre cerca de 20 a 40 minutos durante um ciclo completo de 90 minutos, e é conhecido por ser o momento em que o corpo e a mente realmente descansam. Nesse período, nossos batimentos cardíacos, pressão arterial e ondas cerebrais desaceleram consideravelmente. Além disso, o sono profundo é fundamental para o fortalecimento de músculos, ossos e até do sistema imunológico, preparando nosso cérebro para absorver novas informações e manter a memória ativa.
O sono de ondas lentas também se mostra essencial para a "limpeza" do cérebro, eliminando resíduos metabólicos e proteínas acumuladas, que estão relacionadas à doença de Alzheimer. Matthew Pase, neurocientista da Universidade Monash, na Austrália, explica: "O sono de ondas lentas ajuda o cérebro envelhecido de várias formas, facilitando a eliminação de proteínas que se agregam na doença de Alzheimer".
Pase e uma equipe internacional examinaram 346 participantes do Framingham Heart Study, todos com mais de 60 anos, para entender melhor como o sono profundo pode impactar o risco de demência. Esses voluntários passaram por duas avaliações de sono completas entre 1995 e 2003 e foram monitorados até 2018. Ao comparar os dados coletados ao longo dos anos, eles conseguiram traçar uma conexão entre a perda de sono profundo e a chance de desenvolver demência.
O estudo revelou que as pessoas que perderam maior porcentagem de sono de ondas lentas apresentaram risco aumentado não só para a demência em geral, mas também para o Alzheimer, a forma mais comum da doença. “Nossa pesquisa sugere que a perda do sono profundo pode ser um fator de risco modificável para a demência”, complementou Pase.
O Framingham Heart Study oferece uma análise rica sobre a saúde de pessoas idosas, monitorando dados como a perda de volume do hipocampo — um sinal precoce de Alzheimer — e fatores que impactam a saúde cardiovascular. A pesquisa também revelou que baixos níveis de sono profundo estão associados a um risco maior de doenças cardiovasculares e à presença do gene APOE e4, ligado ao Alzheimer.
Ainda que a relação entre sono profundo e demência seja clara, os cientistas alertam que o estudo não comprova que a perda de sono causa a demência. Pode ser, inclusive, que mudanças no cérebro causadas pela demência interfiram na qualidade do sono. Assim, para entender melhor essa relação, mais estudos serão necessários.
Mas, enquanto isso, garantir uma boa noite de sono é uma medida que pode ajudar a saúde do cérebro. Afinal, como indicam os cientistas, cuidar da qualidade do sono não é só uma questão de memória, mas também uma ação preventiva que fortalece nosso corpo e mente para o futuro.