Saúde/bem-estar
25/03/2024 às 12:33•2 min de leituraAtualizado em 25/03/2024 às 12:33
O conceito clássico de anãs brancas afirma que esses corpos celestes são resíduos de estrelas de massa menor que 8 massas solares. Em outras palavras, são estrelas mortas, porque esgotaram sua capacidade de produzir calor nuclear. Nas imagens, elas são representadas geralmente como uma esfera densa com um núcleo de plasma que congelou de dentro para fora.
Contudo, uma pesquisa publicada em 2019, utilizando dados do satélite Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA), mostrou à equipe liderada por Sihao Cheng, do Instituto de Estudos Avançados, de Princeton nos EUA, uma imagem "fantasmagórica". Algumas falecidas anãs brancas continuavam mantendo "uma luminosidade constante durante um período comparável à idade do universo", diz o estudo.
Confuso, Cheng concluiu que, para interromper seu processo de arrefecimento, essas estrelas zumbis teriam, necessariamente, que possuir alguma fonte secreta de produzir energia. O astrônomo voltou recentemente a pesquisar o assunto, com Antoine Bédard e Simon Blouin, das universidades de Warwick e Victoria, e conseguiram compreender o fenômeno.
Para explicar a presença de uma "fonte da juventude" poderosa, que inibe o resfriamento, os autores concluíram que, em algumas anãs brancas, o plasma denso do seu interior não congela de forma automática. Em vez disso, ele forma cristais flutuantes, que deslocam o líquido mais pesado para baixo e libera energia gravitacional.
A energia gravitacional liberada é suficiente para interromper o congelamento da estrela durante bilhões de anos. Essa destilação explica o que pode ter ocorrido com toda a população de estrelas mortas-vivas inexplicáveis.
Ao destacar a existência de remanescentes de processo de fusão incomuns, essas anãs brancas subvertem a sua conceituação como estrelas mortas, e continuam exibindo uma luminosidade constante, que chega mesmo a suplantar a de algumas anãs da sequência principal. A descoberta pode reformular os conceitos de datação de populações de estrelas via utilização de anãs brancas.
Até agora, as anãs brancas vinham sendo utilizadas como um termômetro indicador de idade, ou seja, quanto mais frias, mais velhas. Mas o novo estudo prova que a coisa não é bem assim, com algumas delas podendo ser bilhões de anos mais antigas do que se pensava. Essa nova compreensão poderá ter reflexos sobre a forma como enxergamos nossa própria galáxia.
Quanto à questão do motivo pelo qual o fenômeno acontece só com algumas anãs brancas, e não com todas, os autores teorizam que é devido à própria composição da estrela. "Algumas estrelas anãs brancas são formadas pela fusão de duas estrelas diferentes. Quando elas colidem para formar a anã branca, a composição da estrela muda de uma forma que pode permitir a formação de cristais flutuantes," diz o coautor Simon Blouin.
Mais tranquilo, Cheng alerta que o seu trabalho, com os novos colegas, "exigirá atualizações nos livros didáticos de astronomia".