Humanos e cães americanos criaram amizade muito antes do que se achava

09/12/2024 às 21:002 min de leituraAtualizado em 09/12/2024 às 21:00

Esqueça tudo o que você sabia sobre a história de amor entre humanos e cães. Uma descoberta em um sítio arqueológico no Alasca sugere que essa relação começou cerca de 12 mil anos atrás, ou seja, 2 mil anos antes do que se pensava. Um osso de perna, pertencente a um cão adulto, foi encontrado em 2018 no sítio arqueológico Swan Point, a 112 km de Fairbanks. A datação por radiocarbono revelou que o animal viveu durante esse período, sendo alimentado e cuidado por humanos.

E as descobertas não pararam por aí. Em junho de 2023, outra escavação na região encontrou um maxilar canino de 8,1 mil anos no sítio vizinho Hollembaek Hill. Para os pesquisadores, essas evidências físicas reforçam a ideia de que a relação entre humanos e cães nas Américas tem raízes muito mais profundas do que imaginávamos. “Agora temos provas de que canídeos e pessoas tinham vínculos próximos mais cedo do que sabíamos”, comentou François Lanoë, principal autor do estudo e professor de antropologia da Universidade do Arizona.

Cães, salmão e uma conexão ancestral

Análise de restos mortais indicam que cães daquela época tinham dieta rica em salmão. (Fonte: Zach Smith/Reprodução)
Análise de restos mortais indicam que cães daquela época tinham dieta rica em salmão. (Fonte: Zach Smith/Reprodução)

Análises químicas feitas nos ossos revelaram uma curiosidade surpreendente: esses cães antigos consumiam uma dieta rica em salmão. Como os caninos não pescavam por conta própria, isso indica que eles eram alimentados por humanos, reforçando a teoria de um vínculo de dependência. Ben Potter, coautor do estudo e arqueólogo da Universidade do Alasca Fairbanks, destacou a importância da descoberta: “Isso é a prova definitiva, porque eles realmente não estavam caçando salmão na natureza”.

Além disso, evidências genéticas apontam que cães chegaram às Américas há cerca de 15 mil anos, acompanhando os primeiros migrantes vindos da Eurásia. No entanto, encontrar restos físicos desses animais é raro, tornando os achados no Alasca ainda mais valiosos. A pesquisa também identificou 76 canídeos na região, incluindo cães, lobos antigos, híbridos de lobo-cachorro e até coiotes, mostrando que esses companheiros ancestrais eram muito diferentes dos chihuahuas ou bulldogs que conhecemos hoje.

Os canídeos encontrados, mesmo com características genéticas variadas, comportavam-se de maneira semelhante aos cães modernos, formando laços com os humanos e dependendo deles para se alimentar. Essa interação mostra que o processo de domesticação foi tudo menos simples. “Foi uma jornada cheia de idas e vindas, cruzamentos e momentos de falha”, explicou Lanoë.

Evolução compartilhada

Mandíbula canina foi desenterrada em sítio arqueológico há muito tempo visado por pesquisadores. (Fonte: Joshua Reuther/Reprodução)
Mandíbula canina foi desenterrada em sítio arqueológico há muito tempo visado por pesquisadores. (Fonte: Joshua Reuther/Reprodução)

A relação entre humanos e cães ao longo dos séculos levanta questões existenciais sobre o que define um “cachorro”. “Comportamentalmente, eles agiam como cães, mas geneticamente não se parecem com nada que conhecemos hoje”, apontou Lanoë. A domesticação foi um processo complexo, fruto de uma evolução compartilhada, moldada pelas necessidades e oportunidades de sobrevivência mútua.

Esse vínculo ancestral evidencia como cães e humanos caminharam juntos, dividindo não só o alimento, mas também estratégias de adaptação em ambientes desafiadores. Para Potter, os achados levantam um debate intrigante: “Isso nos leva a perguntar: o que realmente é um cachorro?”.

Enquanto as respostas definitivas talvez nunca sejam alcançadas, uma coisa é certa: a parceria entre humanos e cães resistiu ao teste do tempo e continua a nos surpreender com suas raízes profundas e suas implicações para a história da humanidade.

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