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05/06/2024 às 10:00•2 min de leituraAtualizado em 11/07/2024 às 10:58
Por que a nossa espécie, o Homo sapiens, conseguiu florescer enquanto os neandertais, nossos primos antigos, desapareceram há cerca de 40 mil anos? A resposta pode estar escondida na forma como usamos a linguagem, especialmente nas metáforas.
As metáforas, que são a habilidade de comparar duas coisas não relacionadas, podem ter sido a chave para nossa sobrevivência e evolução, diferenciando-nos dos neandertais de maneira crucial.
Os neandertais e os humanos modernos compartilharam um ancestral comum há cerca de 600 mil anos. Enquanto os neandertais evoluíram na Europa, os humanos modernos se desenvolveram na África. Ambas as espécies mostraram capacidade de comunicação e habilidades técnicas consideráveis.
Os neandertais fabricavam ferramentas avançadas, como lanças de madeira e usavam resinas para aderir componentes, indicativos de um pensamento sofisticado. Também há evidências sugerindo que eles usavam símbolos e poderiam ter produzido arte, embora essas reivindicações ainda sejam discutidas.
No entanto, quando analisamos os cérebros das duas espécies, encontramos diferenças significativas. Reconstruções digitais mostram que os neandertais tinham um lobo occipital maior, dedicado ao processamento visual, enquanto os Homo sapiens desenvolviam uma estrutura cerebral mais esférica com um cerebelo mais desenvolvido, o que favorecia tarefas como a linguagem e a fluência verbal.
Além disso, mutações genéticas exclusivas dos humanos modernos sugerem redes neurais mais complexas, essenciais para habilidades cognitivas superiores.
Um dos fatores que pode ter sido decisivo é a capacidade dos Homo sapiens de usar metáforas. As metáforas permitiram conectar diferentes agrupamentos de ideias no cérebro, facilitando a criação de conceitos complexos e abstratos. Essa habilidade de traçar linhas entre ideias distantes pode ter sido crucial para o desenvolvimento de cultura, arte e tecnologia mais avançadas.
Estudos mostram que os humanos modernos armazenam palavras em ambos os hemisférios do cérebro em grupos semânticos de conceitos relacionados. Essa organização semântica facilita o pensamento abstrato e a comunicação por meio de metáforas, algo que os neandertais, com suas conexões neurais menos integradas, provavelmente não faziam de maneira tão eficaz.
A emergência espontânea de sintaxe nas línguas dos Homo sapiens também mostra como a nossa espécie criou regras consistentes para a construção de frases complexas, outra vantagem evolutiva. Modelos de simulação sugerem que essas regras podem surgir naturalmente durante a comunicação entre gerações, destacando a adaptabilidade e a evolução contínua da nossa linguagem.
Além disso, a iconicidade na linguagem, ou a capacidade de criar palavras que se parecem ou soam como aquilo que representam, pode ter sido um trampolim para a evolução da linguagem. Isso sugere que a comunicação de experiências sensoriais e emocionais era mais eficaz entre os Homo sapiens, ajudando na transmissão cultural e na coesão social.
Enquanto palavras icônicas podem ter sido compartilhadas por ambas as espécies, os Homo sapiens desenvolvem uma capacidade única de usar a linguagem para explorar conceitos além do imediato, algo que pode ser a base do deslocamento na linguagem – a habilidade de se referir a coisas que não estão presentes no momento.
Portanto, a diferença principal que pode ter garantido o sucesso dos Homo sapiens sobre os neandertais reside na nossa capacidade de usar a linguagem de maneira mais flexível e abstrata.
As metáforas e a capacidade de ligar diferentes conceitos no cérebro nos permitiram criar e compartilhar ideias complexas, desenvolver tecnologias avançadas e construir culturas ricas. Essa habilidade linguística avançada pode ter sido a chave para a nossa sobrevivência e prosperidade, deixando os neandertais para trás na história evolutiva.