Estilo de vida
21/10/2024 às 15:00•2 min de leituraAtualizado em 21/10/2024 às 15:00
Quem disse que não chove no deserto? Embora seja uma das regiões mais áridas e estéreis da Terra, o deserto do Saara foi visitado, nos dias 7 e 8 de setembro, por um forte ciclone extratropical, que inundou áreas de sua região noroeste, no Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia.
Amargando uma seca que dura seis anos, a representante da Direção Geral de Meteorologia do Marrocos, Houssine Youabeb, explicou à AP que "Já se passaram de 30 a 50 anos desde que tivemos tanta chuva em um espaço de tempo tão curto". As imagens da inundação foram capturadas em satélites e também por um exército de drones
Como resultado, as dunas de Merzouga, um dos destinos turísticos mais procurados no Marrocos, se transformaram em uma curiosa região de lagos, e o próprio lago Iriqui, no parque nacional de mesmo nome, que há décadas não via sinal de água, transbordou.
A ocorrência de chuvas torrenciais após uma seca prolongada pode parecer, a princípio, uma boa notícia, mas as enchentes trouxeram também um alto custo humano. No dia 10 de setembro, pelo menos 20 pessoas haviam morrido no Marrocos e na Argélia em consequência das chuvas, segundo a BBC.
Além disso, a distribuição de água potável e a infraestrutura de estradas e rede elétrica ficaram comprometidas.
Segundo a CNN, uma cidade tradicionalmente desértica do sudeste do Marrocos, Errachidia registrou nos dois dias de setembro quase 76 mm de chuva. O valor é mais de quatro vezes a precipitação normal para todo o mês de setembro, e mais da metade do valor do esperado para um ano inteiro na região.
Em entrevista ao Observatório da Terra da NASA, o professor Moshe Armon, da Universidade Hebraica de Jerusalém, explicou que, embora seja normal que essa região saariana receba alguma precipitação durante o verão, o que se viu neste ano foi totalmente atípico, porque as chuvas vieram acompanhadas de um ciclone extratropical.
Os ciclones extratropicais são parecidos com os tropicais, como o furacão Milton que impactou a Flórida recentemente. O problema é que esses sistemas atmosféricos rotativos se formam em latitudes afastadas do equador, no caso acima dos 30° de latitude norte. No caso do ciclone que atingiu o Saara, ele começou no Oceano Atlântico, mas retirou sua água das regiões equatoriais mais úmidas da África.
Além do impacto momentâneo, de formação de lagos entre as dunas, os especialistas se preocupam com possíveis impactos no clima da região a longo prazo. Segundo Youabeb, um provável aumento da evaporação e da umidade no ar pode trazer um padrão de aguaceiros rotineiros sobre o Saara.