Ciência
02/11/2024 às 18:00•3 min de leituraAtualizado em 02/11/2024 às 18:00
O uso do urânio empobrecido (DU, na sigla em inglês) em munições levanta uma questão intrigante: o que leva governos a utilizarem esse material em armas e, ao mesmo tempo, a enfrentar o debate em torno dos riscos que ele representa? Esse subproduto da indústria nuclear, apesar de ser menos radioativo do que o urânio natural, possui uma combinação de características que fazem dele uma poderosa ferramenta bélica – ainda que controversa.
Graças à sua densidade e às suas propriedades físicas únicas, o DU é ideal para projéteis usados para perfurar blindagens. Entretanto, seu uso tem causado preocupações, especialmente em regiões onde foi amplamente utilizado em guerras passadas, levando a questionamentos sobre os riscos ambientais e de saúde associados.
Mas o que exatamente torna o urânio empobrecido tão interessante para munições? Uma de suas principais vantagens é sua densidade, cerca de 1,7 vez maior que a do chumbo. Isso significa que projéteis de DU conseguem concentrar mais energia em uma área reduzida, aumentando a capacidade de penetração contra veículos blindados, como tanques.
Além disso, esses projéteis se autoafiam ao impacto, ao contrário de metais que se achatam ou se fragmentam. Esse efeito, somado à alta velocidade com que são lançados, permite que atravessem camadas de blindagem, o que seria mais difícil com projéteis de metais menos densos.
Cabe também lembrar que o urânio empobrecido é pirofórico, o que significa que ele se inflama ao entrar em contato com o ar, causando chamas intensas dentro dos veículos atingidos. Tudo isso contribui para o potencial destrutivo dessas munições, tornando-as uma escolha comum em situações de combate moderno.
No entanto, a ampla utilização do DU em conflitos, especialmente na Guerra do Golfo e na Guerra do Iraque, suscitou preocupações quanto ao impacto de longo prazo desse material. Ao penetrar na blindagem de um tanque, por exemplo, o urânio se fragmenta em partículas finas que se espalham pelo ambiente e podem ser inaladas ou ingeridas por pessoas próximas.
Estudos mostram que a exposição ao urânio empobrecido no organismo pode causar danos renais e nervosos, além de aumentar o risco de câncer. Em áreas de conflito como Fallujah, no Iraque, foram observados mais casos de doenças crônicas, defeitos congênitos e câncer, levantando debates sobre a responsabilidade e os possíveis danos do uso desse subproduto do urânio.
Contudo, é importante notar que a radioatividade desse material é relativamente baixa. Embora seja tóxico e potencialmente cancerígeno, a maioria dos estudos de longo prazo em áreas de conflito e em veteranos expostos ao DU não conseguiu estabelecer uma relação direta e conclusiva entre a exposição ao material e o aumento de doenças.
Estudos indicam que a contaminação em soldados dos Bálcãs e civis locais é geralmente baixa, sem efeitos de saúde claros. O Departamento de Defesa dos EUA defende o uso de DU, afirmando que ele atende normas de desempenho, não viola leis internacionais e é destinado a destruir veículos blindados por força cinética, não como arma química.
Sem consenso sobre os efeitos de longo prazo, muitos países têm evitado o uso de projéteis de urânio empobrecido, preferindo alternativas mais seguras. O Reino Unido, por exemplo, investe em projéteis de tungstênio, um metal denso eficaz contra blindagens e com menores riscos ambientais e toxicológicos.
Essa transição indica um movimento para reduzir os impactos potenciais do DU em zonas de guerra, à medida que preocupações com o meio ambiente e a saúde das populações locais se tornam mais centrais nas estratégias militares.