Artes/cultura
18/09/2024 às 03:00•2 min de leituraAtualizado em 18/09/2024 às 03:00
A Lua pode parecer calma e inerte hoje em dia, mas sua história geológica está longe de ser monótona. Ela surgiu há bilhões de anos, após um impacto colossal entre a Terra e um protoplaneta. Esse choque deixou a Lua coberta por um vasto oceano de magma, que, com o tempo, se resfriou e formou a crosta lunar. Apesar desse processo de resfriamento, a atividade vulcânica continuou por milhões de anos, moldando sua superfície.
O que sempre foi uma dúvida para os cientistas é por quanto tempo essa atividade vulcânica durou. Um estudo recém-publicado na revista Science trouxe uma nova e surpreendente resposta: ela pode ter persistido por muito mais tempo do que se pensava.
A pesquisa, que analisou esferas de vidro vulcânico coletadas pela missão Chang’e-5 em 2020, revelou que algumas dessas esferas se formaram há apenas 120 milhões de anos, muito mais recentemente do que se imaginava. Isso muda nossa compreensão sobre o passado vulcânico da Lua.
Essas pequenas esferas de vidro, formadas quando o material é aquecido até seu ponto de fusão e se solidifica, são importantes pistas sobre a história da Lua. Embora o calor vulcânico seja uma explicação para a formação dessas esferas, impactos de meteoritos também podem gerar temperaturas suficientes para derreter o regolito lunar. Então, para determinar quais esferas eram, de fato, resultado do vulcanismo, os cientistas tiveram que fazer uma análise detalhada.
O primeiro passo foi medir os níveis de óxido de magnésio (MgO) e comparar com o óxido de alumínio (Al2O3), baseando-se em amostras coletadas pela missão Apollo-16. Após essa análise, apenas 13 esferas passaram no teste, mostrando níveis de MgO compatíveis com vidro vulcânico. Porém, como os próprios pesquisadores apontam, "Cerca de 3% das amostras de vidro de impacto das missões Apollo também apresentam características similares ao vidro vulcânico", o que mostra que esse método não é 100% infalível.
Depois dessa triagem inicial, os pesquisadores examinaram o níquel (Ni) presente nas esferas, já que o vidro resultante de impactos geralmente tem níveis elevados de Ni, provenientes dos meteoritos. Após descartar as esferas com excesso de níquel, eles analisaram os isótopos de enxofre para confirmar ainda mais suas descobertas. No final das contas, sobraram apenas três esferas de vidro que se encaixavam nos critérios, cada uma com menos de um milímetro de diâmetro.
Essas três esferas, por menores que sejam, podem trazer uma grande revolução no entendimento sobre a Lua. Utilizando o método de datação por urânio-chumbo, os cientistas descobriram que as esferas têm aproximadamente 120 milhões de anos. Isso sugere que a Lua teve vulcões ativos muito mais recentemente do que os 2 bilhões de anos sugeridos por estudos anteriores. Essa nova descoberta levanta várias questões sobre como a Lua pôde manter atividade vulcânica em uma fase tão tardia.
Uma das hipóteses levantadas no estudo é que o vulcanismo tardio poderia ter sido causado por "aquecimento radiogênico", gerando anomalias térmicas que derreteram parte do manto lunar. Ainda assim, os pesquisadores admitem que "ainda é incerto como a Lua pôde permanecer vulcanicamente ativa por tanto tempo". Parece que nosso satélite natural ainda guarda muitos mistérios esperando para serem desvendados, não é mesmo?