Ciência
18/11/2014 às 11:05•4 min de leitura
Quando um filme de ficção científica envolve viagem espacial você já pode se preparar para duas coisas: a primeira é, obviamente, ficar fascinado com essa coisa de espaço; a segunda é que, por mais que você preste atenção no filme ou o assista várias vezes vai sempre ter aquele assunto que não ficou explicado. É para isso que o Mega Curioso existe, querido viajante espacial, para deixar as coisas mais claras para você.
O filme do momento é “Interestelar”, de Christopher Nolan. O longa envolve alguns temas polêmicos e cheios de complexidade: viagem espacial, fim do mundo e o assustador buraco da minhoca. Antes de continuar, um alerta: este texto contém spoilers. Depois não vale reclamar.
Se em “A Origem” Nolan mergulhou de cabeça no mundo dos sonhos, em “Interestelar” a coisa foi ainda mais além e a imersão foi em um universo maluco conhecido como astrofísica. Para dar vida à narrativa complexa, Nolan recorreu à Física, aquela área da Ciência que nos causa arrepios. “Interestelar” é a prova de que Física pode ser uma coisa muito bacana, no final das contas.
Entre os personagens principais do enredo estão o agricultor Coop, vivido por Matthew McConaughey; Murph, a filha de Coop, interpretada por Mackenzie Fox na infância e por Ellen Burstyn na sequência. Quem também faz parte do elenco é Anne Hathaway, que dá vida a Amelia Brand.
O filme mostra o planeta Terra entrando em colapso em um futuro próximo, quando nem mesmo toda a tecnologia existente é capaz de salvar a humanidade. O caos se instaura em todo o mundo: tempestades de areia, falta de alimento, falência de universidades e por aí vai. Quem se propõe a descobrir uma maneira de ajudar o planeta é a NASA, que espera conseguir colonizar outros lugares. É mais ou menos nessa altura da trama que a sua cabeça começa a dar diversos nós consecutivos.
Coop, o agricultor que, na verdade, é um astronauta não atuante, aceita participar de um projeto maluco e tentar viajar para outra galáxia. Para essa proeza gigantesca, somente conseguindo passar pelo buraco de minhoca, que nada mais é do que uma espécie de portal que, no filme, está aberto nas proximidades de Saturno. Deixando a história do filme de lado, fica a pergunta: será que esse tipo de coisa seria possível mesmo?
Aqui dá para ter uma boa noção de como as coisas fluem durante o filme - com spoilers, é claro.
Vamos lá: se você ainda não viu o filme, é bom ficar atento a alguns termos que vão fazer com que você acabe saindo da sala do cinema meio atordoado. Não é preciso ser um grande gênio para saber que não há gravidade no espaço e que, por isso, os astronautas ficam flutuando, certo?
A questão é que ficar em um ambiente sem gravidade por muito tempo – anos, no caso do filme – é extremamente prejudicial ao corpo humano e, por isso, fala-se em um conceito chamado “gravidade artificial”, que foi criado por cientistas para lidar com o problema. Essa gravidade artificial é produzida por um movimento de rotação da nave, causando uma sensação de gravidade “normal”.
Outro assunto abordado no filme é a questão dos buracos negros giratórios, cuja existência já foi comprovada cientificamente pelo astrofísico Kip Thorne, que deu uma assessoria a Nolan na hora da produção do roteiro. Esses buracos conseguem mudar a forma do espaço ao redor deles, em um processo chamado “frame dragging”. Essa deformação de espaço acaba afetando outros fatores também, como a noção de espaço-tempo das regiões próximas.
No caso do filme, em que o personagem consegue fazer a transição pelo buraco negro, fisicamente falando, ele possivelmente seria destruído pela gravidade.
Fique atento também aos conceitos de “wormhole” ou “buraco de minhoca”, tanto faz o nome – a complexidade é a mesma. Se você quiser entender o que é isso, imagine uma espécie de portal mágico, pois, ainda que a questão não seja mística, dá para visualizar melhor.
Na verdade, a astrofísica ainda não comprovou a existência factual de buracos de minhoca, então esse é o único fenômeno do filme que não poderia ser cientificamente viável. Ainda assim, o conceito é tão incrível que foi brilhantemente explorado no roteiro. Outro filme que fala sobre o fenômeno é Donnie Darko, mas de maneira diferente.
Um buraco de minhoca, teoricamente, é o ponto de interseção entre duas regiões do espaço que estão distantes. Essa região acaba facilitando a passagem de um ponto até o outro – no caso do filme, de uma galáxia a outra. Para entender melhor, dobre uma folha de papel ao meio e passe uma caneta através dela. A folha é o espaço. Um ponto de um dos lados dela é a Terra; um ponto do outro lado é uma galáxia distante. O furo que você fez com a caneta é o buraco de minhoca.
Outro conceito explorado no filme é o de “dilatação gravitacional do tempo”, que é um fenômeno verdadeiro e que está diretamente associado à relatividade do tempo. Funciona assim: em regiões de forte influência da gravidade, o tempo passa de maneira mais lenta em comparação com regiões de menor atração gravitacional, como é o caso da Terra.
Uma vez que buracos negros têm maior atração da gravidade, dá para entender por que o tempo lá é mais devagar do que em nosso planeta. Por isso, a pessoa próxima a um buraco negro acaba envelhecendo mais lentamente do que quem está na Terra. Outro fato curioso: cada região cósmica tem uma relação temporal única.
Agora, para explicar qual é a maluquice envolvendo a tal “realidade de cinco dimensões”, precisamos recorrer ao físico mais querido da garotada: Albert Einstein. Ele passou três décadas estudando a teoria do campo unificado, que mistura a forma matemática entender a gravidade com as três forças fundamentais da natureza: a forte, a fraca e a eletromagnética.
Ainda que três décadas de estudo pareçam muito tempo para você, voltamos à relatividade do tempo, mas de uma maneira diferente: no quesito científico da coisa, 30 anos de estudos não é nada e, por isso, o gênio acabou não concluindo suas pesquisas. Até hoje, há muitos físicos e astrofísicos pelo mundo buscando formas de chegar a alguma conclusão para os estudos iniciados por Einstein.
Há quem diga que a solução para a teoria do campo unificado seja uma revisão das dimensões do universo: em vez de pensarmos nele dentro das quatro dimensões propostas por Einstein – que inclui espaço-tempo –, o ideal seria imaginar um espaço com cinco dimensões. Eis outra ideia presente no filme e cientificamente coerente. Esta imagem está em inglês e, para quem precisa de um empurrãozinho visual na hora de entender algumas questões mais complicadas, ela pode ser bastante útil.
E aí, deu para entender um pouco melhor? Você já assistiu ao longa? O que achou dele? Conte para a gente nos comentários!