Ciência
06/11/2015 às 12:09•4 min de leitura
Se o assunto é a China, você pensa em quê? É a maior economia do mundo, é o maior crescimento anual, é o país mais populoso… Mas e se falarmos dos problemas de lá, o que vem à sua cabeça? Talvez a incrível poluição, com as imagens de céu fechado, cinza, pessoas com máscara, indústrias e carros em abundância. Certo?
Seria natural se isso acontecesse, pois essas são as principais questões que envolvem o país. Sobre a poluição, nós já publicamos por aqui uma matéria que explicita as terríveis condições do ambiente em várias cidades chinesas. Porém, hoje, vamos abordar um outro problema ambiental de proporções absurdas e inacreditáveis, principalmente pelo aparente descaso com que vem sendo tratado pela população e pelas autoridades: o lixo despejado nas ruas e locais públicos urbanos.
Conforme descreve o início de um artigo apresentado pelo site All That Is Interesting, em alguns locais, “o lixo cobre as ruas como uma pequena camada de neve suja”. E a situação é bem essa: são pilhas e pilhas de lixo jogado nas ruas, espalhado pela praia e pelos rios. As imagens não mentem e são no mínimo assustadoras.
A China, enquanto maior nação, maior país em crescimento e, também, maior economia do mundo, produz cerca de 300 milhões de toneladas de resíduos por ano, a maioria oriunda de grandes cidades. Agora, leitor, você pode imaginar a situação, já que grande parte dessa quantidade, em vez de ir para destinos certos, vai parar nas ruas e locais públicos dos centros urbanos, deixando diversos lugares cobertos de sujeira e detritos.
A China detém o maior crescimento econômico dos últimos 30 anos. Isso implica no desenvolvimento também de grandes polos urbanos, já que as grandes cidades continuam sendo o destino de moradores das áreas rurais que buscam uma nova perspectiva de vida.
O crescimento na economia gera aumento no consumo, que por sua vez vai ocasionar maior quantidade de resíduos. Tanto as classes mais baixas quanto as mais altas passam a buscar novas experiências e procuram adquirir novos produtos, melhores, mais modernos e mais caros. Essas mudanças vão gerando uma categorização maior da população, e, na medida em que as pessoas vão adquirindo “status”, maior será a falta de responsabilidade social e o descaso ficará ainda mais evidente.
Com essa realidade, a mentalidade dos cidadãos vai mudando e se estabelece outra forma de pensar. Conforme explicou a CEO do órgão de limpeza de Hong Kong, Lisa Christensen, eles preferem deixar os lixos nas ruas para que alguém colete depois. É mais ou menos como pensar que jogar a sujeira no lugar certo vai tirar o emprego de alguém que poderia estar ali limpando. Isso é o que eles pensam ao olhar para a situação dos imigrantes que procuram emprego nas grandes cidades.
As pessoas fazem sem se preocupar, andando a pé na rua ou de carro, em praças ou parques e até praias, levando como uma atitude normal. Além disso, os residentes das grandes cidades tendem descartar o lixo nos locais onde já há resíduos sobressalentes, como se fosse indicado que, “se há lixo em tal local, é porque alguém já jogou e, logo, outros podem jogar também”. Sob outra perspectiva, como se locais públicos fossem grandes “lixões”. Esse comportamento e essa mentalidade foram comprovados por estudos de campo.
Apenas para esclarecer, uma pesquisa foi realizada em Xangai para levantar dados do problema das vias expressas da China. Constatou-se então que 68% dos motoristas de carro e 95% dos motoristas de caminhão jogam o seu lixo pela janela. Ao responder a pesquisa, eles afirmaram que o fazem por conveniência, ou seja, é um costume que não gera o menor constrangimento.
Essa atitude ainda deu origem a uma outra questão: conflito entre os profissionais do órgão de saneamento e a população de classe média ou superior. A revolta gerada ocasionou algumas confusões sérias e toda a situação só piorou, pois os cidadãos passaram a descartar ainda mais resíduos nas vias públicas.
O trabalho de recolhimento dos profissionais do ramo é diário e há também os catadores de lixo reciclável, que fazem a seleção do entulho nos locais públicos para trocar por dinheiro. Mesmo assim, não há redução do volume de detritos descartados nesses lugares. Em resumo, o lixo acumulado é tão grande que nem o trabalho aliado desses grupos dá conta de limpar as ruas dessas cidades.
Atualmente, em Hong Kong, há uma multa para quem descartar lixo em locais públicos. O valor, na moeda local convertida em dólar, é de aproximadamente US$ 200 (cerca de R$ 750). Infelizmente, isso não é suficiente para inibir a atitude dos chineses “mal-educados”, e, sem um reforço em campanhas de conscientização, a medida não alcança resultados significativos.
Com o crescimento econômico acelerado do país e a entrada do capitalismo em níveis descontrolados, o foco das autoridades não se volta para questões ambientais, e a situação está preocupando os ativistas do meio ambiente. Com isso, em uma iniciativa do órgão de proteção à natureza e da revista online Ecozine, foi realizada uma interessante campanha de conscientização.
No Dia do Planeta Terra, em 22 de abril de 2015, foram espalhados pôsteres com imagens de supostos “criminosos descartadores de lixo”. O grande diferencial da ação foi a utilização das informações de materiais genéticos coletados a partir dos próprios resíduos jogados nas ruas. Com esse material, e com a ajuda de um programa avançado, os responsáveis pela campanha fizeram a leitura do DNA dos antigos donos daquele lixo e confeccionaram os rostos dos pôsteres com as características aproximadas, como cor do olho, dos pelos e da pele, gênero e traços do rosto, sem os cabelos.
O objetivo era dar um tom real de “cartazes de procurados”, mas sem a confirmação verdadeira do rosto retratado. Como as publicações eram expostas nos locais próximos onde o lixo havia sido coletado, muitas pessoas acabavam parando para tentar identificar se a imagem no quadro era a sua. A campanha durou apenas sete dias e foi realizada em alguns locais, principalmente estações de metrô.
Mesmo que não tenha causado grandes evoluções e que não tenha sido por toda a extensão territorial do país, a iniciativa mostra que há saída para o problema, mas que deve haver muito comprometimento e dedicação das autoridades com as campanhas de conscientização. Enquanto isso, os chineses seguem com o costume de descartar seus lixos em locais públicos do país.
O que você acha que deve surtir mais efeito para que a população chinesa pare de jogar lixo nas ruas? Dê a sua opinião no Fórum do Mega Curioso
Veja abaixo mais imagens que retratam a situação do lixo na China:
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