Por que existem homens e mulheres homossexuais?

23/03/2019 às 05:004 min de leitura

Um dos argumentos favoritos de todo homofóbico e de quem diz que “não sou homofóbico, mas...”, quando o assunto é a homossexualidade, é a questão da reprodução. De fato, para haver reprodução humana é preciso que a relação ocorra entre pessoas de sexos diferentes. É também por meio da mistura entre células reprodutoras que características genéticas são passadas de pais e mães para seus filhos.

Seguindo esse raciocínio e partindo do princípio de que a Ciência acredita que homossexuais – pelo menos os homens – nascem homossexuais, o que dá à afirmação um peso hereditário, e levando em consideração que casais homossexuais não se reproduzem, não deveriam eles estar extintos?

Deu um nó na cabeça, né? Então, antes de tudo, vamos deixá-la bem aberta para que, assim, possamos começar a entender um pouco essa questão de identidade sexual.

O assunto é orientação sexual? O que mais tem é pesquisa!

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O pesquisador italiano Andrea Camperio Ciani, da Universidade de Pádua, descobriu que mães e tias maternas de homens gays têm mais filhos do que mães e tias maternas de homens heterossexuais.

Essa diferença dá suporte à chamada Hipótese da Seleção Equilibrada, que basicamente busca entender a base genética da homossexualidade. De acordo com essa linha teórica, os fatores genéticos que determinam que um homem seja homossexual também promovem maior fecundidade em mulheres. Dessa maneira, a informação genética da homossexualidade seria repassada aos filhos dessas mulheres.

Por enquanto, os cientistas não conseguiram identificar qual é esse gene especificamente, mas já sabem que ele faz parte do cromossomo X, que vem da mãe. Se um homem nasce com esse gene, ele possivelmente será gay, mas se uma mulher nasce com o mesmo gene, ela não necessariamente será lésbica. Agora se ela tiver filhos, poderá repassar essa informação genética a eles.

Imagem: Shutterstock

Para alguns pesquisadores que seguem a mesma Hipótese da Seleção Equilibrada, quando uma mulher nasce com o gene que determina a homossexualidade masculina, ela pode se tornar mais atraente para os homens heterossexuais e, dessa forma, em termos evolutivos, consegue mais opções de homens para a reprodução.

Ainda mergulhando nessa lógica, tudo isso significa que tias e mães de homens gays têm vantagens reprodutivas em relação às tias e às mães de homens héteros, e isso proporciona benefícios em aspectos como fertilidade, saúde ginecológica, níveis de problemas familiares e sociais. “Em outras palavras, em comparação com as outras, elas são perfeitas para um homem”, disse Camperio Ciani em declaração publicada no Live Science.

E as lésbicas?

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Agora, se alguns se cientistas baseiam seus estudos a respeito da homossexualidade masculina na Hipótese da Seleção Equilibrada, como poderíamos explicar a homossexualidade feminina? De acordo com uma pesquisa realizada em 2011 apenas com gêmeas idênticas (cujas características genéticas são totalmente iguais) e não idênticas (que compartilham apenas 50% de suas informações genéticas), as gêmeas idênticas tendem a ser lésbicas, enquanto entre as gêmeas não idênticas, uma pode ser lésbica e a outra, não.

Outras teorias a respeito apontam que a orientação sexual feminina pode ter relação com níveis hormonais e que as lésbicas teriam mais contato com o androgênio, um hormônio sexual masculino, enquanto se desenvolviam no útero materno. Há estudos feitos com base nesse conceito hormonal que relacionaram a exposição a altos níveis de androgênio ao desenvolvimento da atração por pessoas do mesmo gênero.

Uma pesquisa holandesa revelou que cerca de 12% das crianças que têm dificuldades com relação à identidade de gênero na infância se tornam adultos homossexuais – em contrapartida, apenas 2% das crianças que se identificam com o próprio gênero se tornam adultos homossexuais. Vale lembrar, sempre, que identidade de gênero e orientação sexual são conceitos diferentes, ainda que muitos estudos relacionem uma coisa à outra.

Diferentes como?

Imagem: PUCMinas

Identidade de gênero é o reconhecimento ou não do gênero dentro do qual uma pessoa nasceu. Se ela é, por exemplo, biologicamente mulher, mas se sente homem, ela pode passar por um processo hormonal e cirúrgico de readeaquação de gênero, mas isso não significa que, uma vez homem, essa pessoa tenha uma orientação sexual heteronormativa e se sinta atraída por mulheres. É possível, sim, que um homem trans seja gay. Da mesma forma que é totalmente normal que uma mulher trans seja lésbica.

Voltando às pesquisas a respeito da homossexualidade feminina, temos um estudo realizado pela psicóloga Lisa Diamond, da Universidade de Utah, que passou dez anos estudando o que chama de plasticidade erótica feminina, uma vez que mulheres são mais maleáveis no aspecto sexual e podem ter suas orientações sexuais influenciadas por aspectos culturais e por experiências positivas de sentimentos de amor e afeto.

De acordo com as conclusões de Diamond, muitas mulheres tendem a se identificar como homossexuais já na fase adulta, sendo que uma boa parte delas, inclusive, têm essa identificação depois de passarem por um casamento heterossexual. A pesquisadora acredita que essa maleabilidade sexual possa ter a ver com o fato de que mulheres tendem a encarar tanto o corpo feminino quanto o masculino como atraentes, enquanto os homens dispensam suas atenções apenas ao gênero pelo qual são sexualmente atraídos.

Imagem: Shutterstock

A questão levantada por Diamond parece ter mais a ver com a maleabilidade sexual feminina do que com a orientação sexual em si. Vale lembrar que o espectro de orientação sexual é muito mais amplo do que os conceitos de hétero, gay, lésbica ou bissexual. Dentro dos limites da escala Kinsey, por exemplo, temos valores que vão de 0 a 6 para definir a sexualidade dos indivíduos, sendo que há, sim, homens héteros com tendências homossexuais e mulheres héteros com tendências lésbicas. A escala também inclui os assexuados, que são as pessoas que não têm interesse em desenvolver uma vida sexual.

Toda essa questão nos faz pensar em alguns pontos, sendo que o principal deles é que seres humanos são movidos, entre outros fatores de motivação, por seus desejos sexuais, e que esses desejos podem ou não ter relação com determinações genéticas, culturais e afetivas. Da mesma maneira, percebemos que nossos impulsos sexuais sofrem interferências dos hormônios que nosso corpo produz e, inclusive, dos hormônios aos quais ficamos expostos dentro do útero materno.

Ainda que haja quem defenda a “cura gay” – assunto sobre o qual já falamos aqui no Mega –, é sempre sensato lembrar que orientação sexual e experiências sexuais ocasionais com pessoas do mesmo gênero, que é algo que existe há milênios, não é um fator passível de ser tratado como doença e, portanto, não precisa de cura, mas sim de respeito.

Lésbicas existem, gays existem, bissexuais existem e possivelmente serão realizadas inúmeras pesquisas científicas para tentar descobrir por que os padrões de interesse sexual se apresentam de maneiras distintas. Até lá, um pouco mais de tolerância seria mais do que bem-vinda. Você concorda?

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