
Ciência
15/07/2016 às 08:18•2 min de leitura
O cérebro, como você sabe, é o centro de comando do nosso corpo, e nós aprendemos que a ausência dele é algo simplesmente incompatível com a vida, pois mesmo a falta de grandes porções desse órgão pode trazer uma série de consequências sérias. É por isso que o caso que vamos contar a seguir é tão surpreendente e vem deixando médicos e especialistas completamente perplexos.
Trata-se de um francês — casado, pai de dois filhos e funcionário público na cidade onde mora — que, ao ir ao médico para reclamar de uma leve fraqueza na perna esquerda, fez uma série de exames e descobriu que cerca de 90% de seu cérebro não existia! O caso foi publicado em 2007 em um periódico científico e, na época, o homem “sem miolos” tinha 44 anos.
Os médicos explicaram que o sumiço do cérebro provavelmente foi resultado de circunstâncias bem peculiares. Quando era bebezinho, o paciente foi diagnosticado com uma condição conhecida como hidrocefalia — que se caracteriza pelo acúmulo de fluidos no interior da cavidade craniana — e teve uma válvula para drenar o excesso de líquidos de seu crânio.
Radiografia do paciente francês
Aos 14 anos de idade, seus médicos julgaram que o paciente não sofria mais com o problema e removeram o dispositivo. A equipe atual acredita que, desde então, o homem continuou acumulando fluidos em seu crânio e, ao longo de 30 anos, esse material foi corroendo seu cérebro — até que restasse apenas 10% do órgão.
O que mais assombra os médicos é o fato de que o paciente tenha conseguido passar todo esse tempo sem desconfiar do que estava acontecendo e tenha levado uma vida absolutamente normal apesar da ausência de quase todo o cérebro — sendo capaz de falar, caminhar, formar memórias, controlar suas funções vitais, solucionar problemas e formular pensamentos!
Entretanto, segundo os especialistas, o que mais impressiona no caso é que ele não só leva a Ciência a questionar o que é necessário para que uma pessoa possa sobreviver, mas também desafia a própria concepção de consciência.
Os especialistas acreditavam que a consciência podia estar associada com diversas áreas cerebrais, como, por exemplo, o córtex visual e o claustro — uma fina camada de neurônios que se projeta através de regiões nobres do cérebro. Só que o caso do homem francês contraria essa teoria, já que, de acordo com ela, por não possuir 90% do órgão (e, portanto, ter apenas 10% dos neurônios que deveria), ele não poderia ter consciência.
Ausência de cerca de 90% do cérebro
O caso do paciente sugere fortemente que é pouco provável que apenas regiões específicas sejam as responsáveis pela consciência. Em vez disso, no lugar de nascermos com ela, os especialistas acreditam que o cérebro se adapta e aprende a “ser consciente” constantemente. Sendo assim, a localização dessa qualidade pode ser flexível e assimilada por diversas áreas cerebrais.
Além disso, o intrigante caso do francês sugere que o cérebro dos adultos pode ser muito mais adaptável do que se pensava — e capaz de assumir papéis diferentes quando o órgão sofre danos graves. Segundo os especialistas, a intrigante condição do paciente sugere que, para que haja consciência, basta que já tenhamos armazenado as informações necessárias.
Imagem aleatória mostrando o crânio "preenchido" pelo cérebro
Ademais, os especialistas sugerem que tudo parece indicar que o cérebro permanece continuamente — e inconscientemente — aprendendo e reescrevendo sua própria atividade, e é esse trabalho árduo do órgão que forma a base da consciência. No caso do homem francês, embora ele tivesse apenas uma pequena porção de seu cérebro, os neurônios que restaram permitiram que ele se mantivesse funcional.