Ciência
02/02/2019 às 15:00•2 min de leitura
Alexandre, o Grande, um dos mais celebrados guerreiros e conquistadores da História, faleceu na Babilônia no ano de 323 a.C., quando tinha apenas 32 anos de idade. A causa da morte sempre foi tema de debate entre estudiosos, mas, segundo os registros históricos, o jovem macedônio sofreu terrivelmente durante 12 longos dias antes de finalmente sucumbir, o que deu origem a teorias de que ele pode ter sido envenenado por algum de seus rivais, contraído malária ou caído vítima da febre tifoide, por exemplo.
(Wikimedia Commons/Walters Art Museum)
Outra informação interessante que consta nos relatos deixados pelos historiadores é que seu cadáver não teria mostrado nenhum sinal de decomposição por 6 dias – o que teria ajudado a consolidar os rumores da época de que Alexandre não era um homem comum, mas um semideus. Pois, agora, começou a circular uma nova teria sobre a morte dessa ilustre figura: a de que o seu falecimento não foi corretamente identificado e que ele só veio a morrer mesmo vários dias depois do registrado.
Quem propôs essa alternativa foi a médica Katherine Hall, professora na Escola de Medicina de Dunedin, da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, e, para ela, a morte de Alexandre pode ser o mais famoso caso de “pseudotânato” – ou seja, diagnóstico errôneo do óbito – da História.
Analisando os registros históricos, Katherine encontrou relatos de que o macedônio começou a ficar doente depois de uma noite de farra – em que teria bebido uma quantidade absurda de vinho. Segundo os registros, no dia seguinte, Alexandre teria começado a se queixar de cansaço e dores no corpo, mas continuou bebendo mesmo assim, e não demorou para que ele começasse a sofrer de fortes dores abdominais e febre alta.
Cena do filme “Alexandre”, de 2004 (YouTube/Kings and Generals)
Então, ao longo dos 12 dias que precederam a sua morte, o quadro de dor piorou bastante e Alexandre teria desenvolvido uma paralisia gradual até não conseguir mais se levantar da cama e apenas conseguir mover os olhos e as mãos, embora todos dissessem que o guerreiro manteve suas faculdades mentais até o final.
Com essas descrições em mente e considerando o tempo que o corpo de Alexandre levou para começar a apresentar sinais de decomposição, a médica concluiu que uma possibilidade é que ele tenha desenvolvido a Síndrome de Guillain-Barré, uma doença autoimune em que o sistema imunológico começa a atacar células saudáveis do sistema nervoso.
Nos estágios iniciais, a SGB, como também é conhecida, apresenta sintomas como infecção gastrointestinal ou respiratória, e o quadro progride para fraqueza muscular, dor nas pernas, arritmia, dificuldade de alimentação, paralisia facial, problemas respiratórios, perda de movimentos e sensibilidade, e disfunção intestinal.
(Pixels)
A síndrome pode ser desencadeada por meio do contágio de vírus e bactérias como o citomegalovírus, o herpesvírus humano 4 (HHV-4), a Salmonella typhi, a Campylobacter jejuni e o Zika vírus. Mas, no caso de Alexandre, Katherine acredita que ele tenha contraído a bactéria Campylobacter pylori, que era comum em sua época, e começado a apresentar os sintomas da SGB – que são consistentes com os descritos nos relatos históricos.
Então, conforme a paralisia foi avançando e seus órgãos foram entrando em falência, seu corpo foi precisando de cada vez menos oxigênio, o que pode ter tornado a sua respiração menos perceptível. Acontece que, na Antiguidade, mais do que checar o pulso dos moribundos para determinar se eles ainda estavam vivos ou não, as pessoas verificavam a respiração – e mesmo que tivessem checado o pulso, seus batimentos cardíacos estariam bastante fracos.
Se foi assim com Alexandre, pode ser que ele tenha sido declarado morto vários dias antes de ter efetivamente falecido. Isso não significa, no entanto, que ele tenha sido sepultado vivo ou coisa do tipo. Contudo, por não ter as faculdades mentas afetadas, pode ser que, mesmo estando incrivelmente débil e doente, ele estivesse consciente de tudo o que estava acontecendo a sua volta – o que deve ter sido horrível. E aí, caro leitor, o que você acha da teoria?