Estilo de vida
28/12/2021 às 09:30•3 min de leitura
Há várias razões para um banco falir: crises econômicas, decisões ruins de gestão, mudanças no mercado ou no comportamento dos clientes... mas o caso do Barings Bank, do Reino Unido, talvez seja único, já que ele faliu pelos erros de um único funcionário. Antes disso, o Barings Bank era o mais antigo do país e uma potência mundial do setor.
É claro que as falcatruas que levaram o Barings à ruína só foram possíveis porque a gestão era bem incompetente. Mesmo assim, é impressionante que uma única pessoa tenha sido capaz de gerar um prejuízo de 827 milhões de libras (mais de R$ 6,2 bilhões) e levar um banco inteiro à falência. Para entender como isso aconteceu, continue a leitura.
O homem responsável pela ruína do Barings Bank se chama Nick Leeson. Após uma infância humilde, o britânico construiu uma carreira meteórica no mercado financeiro: aos 25 anos, foi nomeado gerente de contratos futuros do Barings na Bolsa de Valores de Singapura.
Leeson era considerado um "gênio dos investimentos", fazendo contratos que davam muito mais lucro do que o esperado — mesmo que não seguissem as diretrizes do banco. Em resumo, era praxe vender contratos futuros em pouco tempo, mas Leeson fazia apostas de longo prazo que, muitas vezes, davam certo. Em dado momento, ele foi responsável por 10% do lucro mundial do Barings.
Algumas pessoas tentaram advertir a diretoria, em Londres, que as apostas do jovem gerente eram muito arriscadas — mesmo assim, ele tinha muito crédito com o alto escalão do banco. Com isso, Leeson também tinha muita liberdade, então as operações eram revisadas por ele mesmo, quando o normal era ter outro funcionário para isso. Na prática, ele podia fazer o que bem entendesse.
(Fonte: InfoMoney/Reprodução)
Com "carta branca" para fazer o que quisesse, Leeson continuou realizando investimentos fora das diretrizes do banco. Para esconder as vezes em que suas "apostas" davam prejuízo, ele criou uma conta de erros, a conta 88888, já que 8 é considerado o número da sorte no sudeste asiático.
Contas de erros são comuns em bancos, usadas para cobrir falhas e repor o dinheiro dos clientes. O problema é que, para utilizá-la, Leeson deveria comunicar seus superiores — e ninguém no Barings Bank sabia que ele mantinha essa conta em Singapura.
Depois que o esquema ruiu, Leeson disse que criou a conta 88888 para encobrir um erro de uma funcionária que, em vez de comprar um contrato futuro, vendeu-o, causando 20 mil libras de prejuízo para o banco.
(Fonte: Scoopnet/Reprodução)
Leeson continuou a usar sua "conta de erros" particular para encobrir erros de funcionários, incluindo um rapaz que causava prejuízos após noitadas, e as próprias apostas furadas.
No fim de 1992, o saldo negativo da conta 88888 era de US$ 2 milhões. Para cobrir esse rombo, ele fazia apostas audaciosas, como investir o dobro do dinheiro que perdera, na tentativa de recuperá-lo rapidamente. Em 1993, isso deu certo, e Leeson jurou que nunca iria usar a conta de erros novamente.
Por outro lado, ele precisava manter a reputação de gênio dos investimentos junto à diretoria do Barings — que encorajava seu trabalho. Então, continuou fazendo apostas arriscadas e encobrindo eventuais prejuízos com a conta 88888, a qual fechou 1993 com 23 milhões de libras "no vermelho". No ano seguinte, o prejuízo chegou a 208 milhões de libras — mas Leeson reportou lucros de 102 milhões ao Barings.
Em 1995, o negócio saiu completamente de controle. Leeson fez um investimento do tipo short straddle, apostando que as bolsas de valores de Singapura e de Tóquio não teriam grande variação no curto prazo. Porém, em 17 de janeiro, um terremoto atingiu o Japão, gerando uma baixa generalizada em vários mercados do sudeste asiático.
Em investimentos short straddle, os prejuízos são de acordo com a variação do mercado, e o investidor perde na alta e na baixa, ganhando apenas na estabilidade. É um investimento extremamente arriscado.
Ele ainda tentou mais uma cartada e apostou que a bolsa de Tóquio iria se recuperar rápido, o que também não aconteceu. Aí não teve jeito: ele deixou um bilhete escrito "desculpa" — e fugiu de Singapura. Naquele ponto, o prejuízo da conta 88888 chegou a 857 milhões de libras, mais do que o dobro do valor de mercado do Barings.
Quando as falcatruas de Leeson foram descobertas, já era tarde demais, e o Barings teve de declarar falência e colocar um ponto-final em seus 230 anos de história. O banco foi vendido por uma quantia simbólica, de 1 libra, para uma instituição holandesa.
Já Leeson continuou fugindo por 272 dias, até ser preso em Frankfurt (Alemanha) e extraditado para Singapura, onde ficou preso por cerca de 6 anos. Ele não terminou de cumprir sua pena porque desenvolveu um câncer, mas se curou e participou de reality shows no Reino Unido, chegando a lançar um livro contando sua história no Barings Bank.