Ciência
06/08/2022 às 13:00•3 min de leitura
No decorrer de nossa história, diversas nações fizeram uso (ou ainda fazem) de instalações destinadas ao trabalho forçado de criminosos e presos políticos.
Os campos de concentração da Alemanha Nazista estão entre os mais famosos. No entanto, a antiga União Soviética também contava com sua própria versão desse tipo de estrutura. E para o país, eles tinham uma importância estratégica. Os soviéticos usavam a palavra "lagerya", que significa "campos", para se referir a esses locais. Já Gulag era a administração desses campos de trabalho.
Por algum motivo, o termo que é o acrônimo para Glavnoye Upravleniye Lagerei (Diretoria Principal de Acampamentos) acabou se popularizando e a abreviação começou a ser usada frequentemente como sinônimo dos próprios campos.
(Fonte: Wikimedia Commmons)
Os primeiros campos de trabalho apareceram pouco após a Revolução de 1917. Nessa época, os bolcheviques decidiram livrar de todos os potenciais inimigos, reunindo-os em um único lugar. Inicialmente, os mosteiros eram os melhores locais para isso, já que costumavam ser protegidos com muros altos e continham muitas salas pequenas. Eram prisões prontas.
Quando Stalin deu início aos seus infames expurgos em 1936, milhões de pessoas classificadas como prisioneiros políticos foram transportadas para os campos sem qualquer tipo de julgamento. A primeira leva de prisioneiros consistia de oficiais do governo e militares.
Mais tarde, a perseguição do ditador seria ampliada para os cidadãos comuns: cientistas, artistas, escritores, médicos e intelectuais. A maioria deles foram presos ex nihilo, expressão em latim que significa “do nada”. Ou seja, sem nenhum motivo aparente.
Os campos de trabalho forçado da URSS funcionaram até 1956, isto é, por três anos após a morte de Stalin. Aliás, com o falecimento do líder máximo da URSS, houve uma anistia maciça de vários condenados. Ainda assim, muitas pessoas continuaram presas.
Nem todo prisioneiro ia para o trabalho forçado. Aqui, os corpos de milhares de poloneses jazem mortos em uma vala comum. Katyn, Rússia. 30 de abril de 1943. (Fonte: Wikimedia Commons)
Os campos, laboratórios, prisões, colônias e hospitais psiquiátricos do Glavnoye Upravleniye Lagerei (Gulag) estavam espalhados pelas vastas extensões da União Soviética.
Embora boa parte das operações dessas instalações tenha ocorrido nos centros urbanos, a exemplo da construção magnífica do metrô no subsolo de Moscou, as principais colônias e campos que “empregavam” milhares de prisioneiros tinham uma característica em comum: estavam situados na parte leste e norte do país, distantes da civilização, do transporte e em climas severos.
Isolar os prisioneiros dessa maneira reduzia os custos com segurança. No entanto, o principal motivo para os campos estarem situados nessas regiões era a presença de recursos valiosos, como o ouro de Magadan e o níquel de Norilsk, ou ainda as reservas florestais da Sibéria.
Normalmente, explorar tudo isso exigiria grandes investimentos em infraestrutura e mão de obra. Aspectos evitados com os prisioneiros dos campos, ou como os soviéticos os chamavam, pela “mão de obra livre”.
Corpos de presos políticos em um campo. Tarnopil, Ucrânia. 10 de julho de 1941.(Fonte: Wikimedia Commons)
O Gulag, como departamento do governo, tinha menos de dois milhões de prisioneiros distribuídos entre suas colônias e campos em 1940. Dez anos mais tarde, em 1950, esse número atingiu 2,5 milhões depois que o governo incluiu na lista de presos ex-prisioneiros de guerra e milhares de pessoas que retornavam dela.
Dessa forma, os centros gerenciados pelo Gulag moviam uma economia que "empregava" quase 100 milhões de pessoas. Nos campos e prisões estavam 2 de cada 100 trabalhadores da URSS à época.
Ao longo de sua existência, o Glavnoye Upravleniye Lagerei construiu uma estrutura monstruosa com cerca de 30 mil locais para detenção. O sistema Gulag surgiu como um subproduto dos Grandes Expurgos, da coletivização, das políticas draconianas trabalhistas e, obviamente, das consequências da Segunda Guerra Mundial.
Nos campos, milhares de prisioneiros morreram por excesso de trabalho, pela exposição a condições extremas do clima, por desnutrição e, claro, por execução. Em épocas de fome generalizada, a taxa de mortalidade nessas instalações chegava a 25%.
Pesquisadores e historiadores estimam que as autoridades soviéticas prenderam ou executaram cerca de 25 milhões de pessoas enquanto esses campos funcionaram.