Menininha do Gantois: conheça a maior mãe de santo do Brasil

13/08/2022 às 12:002 min de leitura

Em 1922, há exatamente 100 anos, uma mulher chamada Maria Escolástica da Conceição Nazaré assumia, no lugar de sua mãe, a frente do Terreiro de Gantois, em Salvador, na Bahia. Nascia assim, aos 28 anos de idade, a Mãe Menininha de Gantois, considerada até hoje a grande mãe de santo do Candomblé no Brasil.

Nascida em 1894 e descendente de pessoas escravizadas vindas da África, Maria Escolástica ganhou o apelido Menininha de sua avó. Ainda criança, foi escolhida para ser ialorixá (o nome correto do que se chama popularmente de mãe e pai de santo) do terreiro fundado por sua bisavó, Maria Júlia da Conceição Nazaré, em 1849.

A história de Mãe Menininha

(Fonte: Twitter)(Fonte: Twitter)

Maria Escolástica ganhou esse nome por ter nascido no dia de Santa Escolástica, sendo devota a ela durante toda a sua vida — inclusive frequentando missas. Aos 8 anos, foi iniciada no culto aos orixás de Queto por sua tia e sua madrinha de batismo, Pulquéria Maria da Conceição, conhecida como Mãe Pulquéria.

Em 1918, Mãe Pulquéria morreu repentinamente, fazendo com que a mãe de Menininha, Maria da Glória Nazareth, assumiu o Terreiro de Gantois enquanto a jovem ainda completava sua formação. Alguns anos depois, em 1922, Mãe Menininha se tornou a quarta ialorixá do terreiro e a mais famosa entre todas elas.

A confirmação de Menininha para o posto ocorreu conforme a tradição do Candomblé: foi feito um jogo de búzios e os orixás Oxóssi, Xangô, Oxum e Obaluaiê confirmaram a escolha. Menininha, então com 28 anos, temeu assumir o posto, que demandava de muita dedicação,  mas acabou aceitando.

A importância e a influência de Mãe Menininha de Gantois

Vinícius de Moraes e Mãe Menininha de Gantois. (Fonte: Carta Capital)Vinícius de Moraes e Mãe Menininha de Gantois. (Fonte: Carta Capital)

Ao total, Mãe Menininha ficou 64 anos à frente do terreiro. Durante este período, construiu uma reputação fortíssima que ia além dos participantes da religião africana. Ela foi uma das articuladoras, por exemplo, do término das restrições a cultos que foram impostas em 1930 pela Lei de Jogos e Costumes, que obrigava que os ritos do Candomblé precisassem de autorização policial e terminassem sempre antes das 22 horas.

Ela também lutou para que o Terreiro de Gantois estivesse aberto aos brancos e aos católicos. Sendo ela mesma devota de uma santa, Mãe Menininha convenceu os bispos baianos a autorizarem nas igrejas a entrada de mulheres vestidas com roupas tradicionais das religiões de matrizes africanas.

Respeitadíssima por famosos e anônimos, Mãe Menininha foi homenageada na música Oração de Mãe Menininha, de Dorival Caymmi. Sua casa era frequentada por gente como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Jorge Amado, Pelé, além de políticos como Lula, Maluf, Getúlio Vargas, João Goulart, Antonio Carlos Magalhães e até o general João Figueiredo. Todos iam até ela em busca de palavras de sabedoria.

Em 1976, ela foi laureada no Carnaval do Rio de Janeiro no enredo da escola Mocidade Independente de Padre Miguel, em um samba interpretado por Elza Soares. Já em 2017, o enredo da escola paulistana Vai-Vai a homenageou.

De acordo com o sociólogo e babalorixá Rodney William Eugênio, "ela era a ialorixá das ialorixás, aquela diante de quem todas as mais velhas da Bahia se curvavam por tudo o que ela representava, pela própria condição de conciliadora", falou em entrevista à BBC.

Em 1986, aos 92 anos, Mãe Menininha de Gantois morreu de causas naturais. No terreiro, quem assumiu o posto foi Mãe Cleusa de Nanã, sua filha.

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