Rei Eduardo: o único monarca canonizado da História nunca foi santo

22/10/2022 às 09:003 min de leitura

Como uma pessoa se torna santa? Para começar, um pedido formal é submetido a um tribunal especial do Vaticano, constando detalhes sobre como a pessoa viveu em pureza, bondade, devoção e santidade – contudo, isso só pode acontecer 5 anos após a morte dela, para haver tempo hábil para que as emoções pós-morte se acalmem. Em alguns casos, o processo dura muito mais tempo até que a pessoa alcance a santidade católica, como aconteceu com São Beda, o teólogo, que morreu em 735 d.C. e demorou 1.164 anos até ser declarado santo.

Esse é o primeiro passo. No próximo, o bispo da diocese onde o indivíduo morreu pode abrir uma investigação sobre a vida do concorrente à canonização para descobrir se viveu uma vida com santidade e virtude suficientes para sua santificação. As provas são recolhidas sobre a vida e os atos da pessoa, incluindo depoimentos de testemunhas. Uma vez concluída essa etapa, o bispo pede permissão à Congregação para as Causas dos Santos, departamento responsável por fazer as recomendações ao Papa sobre os santos.

(Fonte: The Record/Reprodução)(Fonte: The Record/Reprodução)

Então, o terceiro passo é a comprovação de uma vida heroica do indivíduo a ponto de poder chamá-la de venerável. Essa etapa é feita pela Congregação antes de passar ao Papa. A quarta etapa só chega na comprovação de milagres às orações feitas ao indivíduo após sua morte. Estas são entendidas como provas de que o indivíduo já está no Céu, portanto, consegue interceder junto a Deus em favor dos outros. 

Isso aconteceu no caso de João Paulo II, que curou a doença de Parkinson de uma freira francesa de 49 anos, assombrando o poderio médico. Apenas um mártir pode passar para essa etapa sem precisar de um milagre em seu histórico de vida. Com isso, o indivíduo recebe o título de "bem-aventurado" e entra para o último passo: a canonização.

Em 8 de setembro desse ano, a rainha Elizabeth II, morreu aos 96 anos e foi enterrada na Abadia de Westminster, em Londres; ao lado de sua mãe, a rainha Elizabeth I, e do rei inglês do século XI, Eduardo, o Confessor, o único soberano da História que virou santo.

Um problema chamado Eduardo

Eduardo I. (Fonte: Pinterest/Reprodução)Eduardo I. (Fonte: Pinterest/Reprodução)

Nascido em 8 de junho de 1042, o príncipe Eduardo, filho do rei Etelredo II da Inglaterra, era considerado uma espécie de simpatizante do povo normando, que mais tarde invadiu seu país e assumiu o trono, simplesmente por ter escapado para a Normandia durante uma das invasões dinamarquesas.

Quando voltou para a Inglaterra, seu irmão, Canuto III da Dinamarca, então rei, o convocou em seu leito de morte e o designou seu sucessor. Após sua morte, Eduardo sucedeu o irmão ao trono e adquiriu uma fama impopular ao delegar vários cargos de alto escalão aos normandos em sua corte, chegando a prometer a coroa a Guilherme, Duque da Normandia, o líder do exército que invadiria a Inglaterra.

Essa inconstância e incoerência no reinado de Eduardo não acontecia apenas de maneira política, mas íntima também. Casado com a rainha Edith, filha de Godwine, duque de Essex, o homem mais poderoso da Inglaterra, ele chegou a tirar a esposa da corte e reivindicar as terras de sua família, quase iniciando uma guerra com eles. Isso só não aconteceu porque Eduardo repensou e decidiu por fazer as pazes, recebendo Edith de volta à corte.

Após a morte de Eduardo, o irmão de Edith, Haroldo II, governou a Inglaterra como o último rei saxão por menos de um ano, pois acabou morto na Batalha de Hastings, fruto da invasão normanda de 1066. Esta só teria acontecido, segundo William I, Duque da Normandia, porque Eduardo havia prometido o trono a Haroldo e Guilherme. Ou seja, mesmo no pós-morte, o comportamento impensado e desinteressado de Eduardo criou um enorme problema.

Uma mentira bem contada

(Fonte: Britannica/Reprodução)(Fonte: Britannica/Reprodução)

Com a ascensão normanda ao trono, nos próximos dois séculos, sua influência governando a Inglaterra impregnou vários aspectos culturais, históricos e britânicos, começando na língua inglesa e chegando na arquitetura.

Durante o tempo em que Guilherme I ficou no poder, ele e seus sucessores fizeram o trabalho de alterar a narrativa ao redor de como chegaram até o trono, principalmente sobre o rei Eduardo, inventando feitos que ele nunca realizou.

Na década de 1130, o monge Osbert de Clare, da Abadia de Westminster, publicou o texto A Vida do Abençoado Eduardo, Rei dos Ingleses, onde descreveu todos os feitos falsos de Eduardo, ao lado de conquistas de figuras que se tornaram santos anglo-saxões.

(Fonte: The Brighton Oratory/Reprodução)(Fonte: The Brighton Oratory/Reprodução)

Ao longo do tempo, outros textos foram escritos chamando de milagres várias façanhas que o rei Eduardo supostamente realizou em vida, como ajudado a curar a cegueira e a tuberculose apenas com o toque de sua mão. Essas mentiras foram tão absorvidas pela cultura e história que o rei adquiriu caráter de santo pela Inglaterra.

O que Osbert escreveu foi considerado uma verdade indubitável, sobretudo por se colocar como testemunha de um milagre realizado pelo rei já morto, dizendo que foi curado de uma febre ao rogar por ele. O monge pediu a canonização do rei ao papa Inocêncio II naquela época, mas sem sucesso.

Na década de 1150, com o apoio político do rei Henrique II, Alexandre III conseguiu ocupar a posição de papa no Vaticano, facilitando para que o pedido de canonização de Eduardo fosse aprovado, oficializando seu estado de santo em 1160. 

Assim, o então rei recebeu a alcunha de Eduardo, o Confessor, em referência ao seu suposto estilo de vida casto e à capacidade de curar doentes com um simples toque.

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