Ciência
17/10/2022 às 10:00•2 min de leitura
Após quase oito meses de guerra na Ucrânia e pressão mundial sobre militares e organizações russas, o aumento das sanções e a instabilidade econômica preocupam não apenas Vladimir Putin, mas a elite de empresários do país. Por motivos banais até mais graves, 15 executivos morreram por aparentes acidentes ou suicídios — incluindo aliados do presidente —, levantando teorias sobre a onda de mortes no país. Estaria algo por trás desses eventos?
As teorias variam e geram dúvidas sobre as histórias oficiais das causas de morte. Especialistas apontam não haver aleatoriedade nessa onda fatal, que se iniciou no final de janeiro com o suicídio de Leonid Shulman, e segue carregando vítimas até hoje. Quedas de escada, assassinatos em família, derrame, envenenamento... Tudo parece ser suspeito e pode indicar atuações de agentes externos (físico ou circunstancial) como forma de manipular esse mistério.
Confira abaixo as três teorias mais sustentadas sobre a morte dos empresários russos nos últimos meses:
(Fonte: Getty Images)
De acordo com Samantha Hawley e Flint Duxfield, da rede ABC, várias mortes tiveram como origem ordens do Kremlin. Essa teoria foi sustentada pelo ex-investidor Bill Browder, que se tornou um crítico severo de Putin e revelou ameaças de autoridades após sanções do fluxo de financiamento para o conflito com a Ucrânia. "Eu suspeito que esse cara disse 'não' e então a melhor maneira de obter esse fluxo de dinheiro é matá-lo e depois fazer a mesma pergunta ao seu substituto", disse ele.
Apesar da teoria possuir sua lógica, especialmente devido ao histórico de Putin em assassinar ou tentar matar dissidentes — como Alexei Navalny, envenenado com o agente russo Novichok em 2020, e posteriormente preso em uma cela —, estudiosos negam essa assertiva e sugerem haver uma conveniência na afirmação do "arquivo morto".
Fiona Hill, ex-especialista da Rússia na equipe do Conselho de Segurança Nacional, reforçou para a revista Politico que "nem toda morte inexplicável na Rússia é a KGB ou o GRU derrubando alguém.”
(Fonte: Getty Images)
Aparentemente acidentes e suicídios são as explicações mais autênticas para a onda de fatalidades. Segundo dados de 2016 da Organização Mundial da Saúde, a Rússia tem a terceira maior taxa de suicídio do mundo, com cerca de 122 pessoas tirando sua própria vida diariamente. Esses casos são impulsionados pelo conflito armado atualmente em vigor, com a criação de "tempos incrivelmente estressantes" para donos de organizações.
Peter Rutland, professor de governo na Wesleyan University, diz que “os empresários viram suas chances de visitar a Europa interrompidas, seus bens congelados, seus iates apreendidos, o valor das ações de suas empresas [decaindo].”
(Fonte: Getty Images)
Mais provável que o mando do Kremlin, a teoria das pressões internas ganha força, indicando assassinatos disfarçados na tentativa de "encobrir rastros" em um "momento em que há muita pressão sobre empresas filiadas ao Estado”, especialmente no setor de petróleo e gás. Com a existência de indivíduos e grupos concorrentes, estatais e empresas privadas com apetites predatórios se movimentam nos bastidores para eliminar possíveis ameaças, competindo de forma feroz em uma época onde a lealdade à Rússia surge como um trampolim.
A violência como forma de fazer negócios foi “profundamente normalizada desde a década de 1990”, disse Rutland. “E assim que o regime entrar no que poderia ser a agonia da morte, ou certamente está sob enorme pressão, você pode imaginar que haverá isso – bem, ainda não é um banho de sangue, mas você pode imaginar que a luta entre as facções ficará ainda mais desesperada."