Ciência
21/10/2022 às 08:00•3 min de leitura
Durante o debate entre os dois candidatos à presidência, na Band, Paulo Freire foi mencionado mais uma vez por Jair Bolsonaro para desmerecer um dos mais respeitados educadores do mundo. O candidato tentou, mais uma vez, difundir a ideia de que seu método não funciona.
Isto levou a uma busca por informações sobre Paulo Freire em vários espaços da internet. Neste texto, contamos quem foi este brasileiro que é considerado o patrono da educação brasileira.
(Fonte: João Pires/Estadão Conteúdo/Arquivo)
Paulo Freire figura entre os mais importantes pedagogos no mundo todo. Nascido em 1921 no Recife, ele estudou Direito na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi durante o curso que teve contato com a filosofia da educação, o que fez com que desistisse de uma carreira como advogado e resolvesse atuar como professor de língua portuguesa.
Por meio do estudo do letramento de pessoas pobres, Paulo Freire inventou um método de ensino que até hoje é considerado muito inovador. Ele propunha ensinar os alunos a partir de suas necessidades reais e levantava a bandeira em prol de uma educação libertária, que empoderasse o sujeito, ao invés de simplesmente difundisse conteúdos aos estudantes.
Freire era contra uma visão tradicional da educação, que funcionava por meio de uma hierarquia (com um professor que está sempre acima do aluno), em um processo que ele chamou de educação bancária (como se o professor apenas "depositasse" um conhecimento no aluno, que não possuía nenhuma bagagem ou mesmo algo a ensinar).
A partir desta concepção, Freire criou um método mais dialógico de aprendizado, que ocorreria pelas próprias necessidades dos alunos. Assim, ele dizia que não fazia sentido alfabetizar os alunos por fórmulas prontas do tipo "Ivo viu a uva", e que o professor deveria adotar técnicas que se relacionassem com a realidade de suas turmas.
Deste modo, Paulo Freire pregou que era preciso conhecer o aluno para poder educá-lo. O professor, por esta ótica, deveria ter uma atuação muito mais profunda do que a de um "repassador de conteúdos". "A ideia central é que a educação deve ser um ato, ao mesmo tempo, do educador e do educando. É nessa relação que se pode estabelecer uma educação libertadora, problematizadora e humanizadora”, explicou Nita Freire, viúva do educador.
Paulo Freire faleceu em 1997. Por conta de suas teorias e pelos resultados colhidos pelo seu trabalho, recebeu mais de 40 títulos de doutor honoris causa concedidos a ele por universidades muito renomadas, como Oxford, Harvard e Cambridge.
(Fonte: Caio Castor/Repórter Brasil)
Vale lembrar aqui que o ódio a Paulo Freire não é recente. E ele tem raízes em uma história que se inicia em 1963, quando Freire, ao lado de colegas pedagogos, desenvolveram um método de alfabetização com duração de apenas 40 horas para adultos que trabalhavam em canaviais no interior do Rio Grande do Norte.
O método funcionou tanto que inspirou a criação do Plano Nacional de Alfabetização, oficializado por meio de um decreto do então presidente João Goulart. No entanto, o plano não foi em frente por conta do golpe militar, que tirou Goulart do poder em 1964.
Os militares julgaram que este projeto era muito perigoso, pois a proposta de alfabetizar populações carentes poderia gerar revoltas contra o governo à medida que estas pessoas adquirissem mais conhecimento.
Esta ideia do saber empoderador foi reiterada pela proposta do educador na obra Pedagogia do Oprimido, escrita em 1968, enquanto Freire estava no exílio no Chile. Nela, o pedagogo defende a ideia de que as camadas mais pobres só poderiam se libertar de sua vulnerabilidade por meio da educação.
Segundo alguns especialistas na área, é justamente por conta de seu caráter libertário que os conservadores de extrema direita elegeram Paulo Freire seu inimigo. O educador Daniel Cara, professor da USP, explica: "o objetivo da pedagogia freireana é fazer com que cada uma e cada um aprendam a dizer a própria palavra, ou seja, tenham a capacidade de ler o mundo e se expressar diante dele. É a pedagogia da autonomia, da esperança: libertadora no sentido de as pessoas terem as capacidades de se libertarem das opressões que buscam calá-las", declarou ao portal DW.