Ciência
11/06/2023 às 06:00•3 min de leitura
Em 2011, Michael S. Zedalis, vice-presidente sênior encarregado de ciência e tecnologia da fabricante de preservativos Ansell Limited, disse que mais de 5 bilhões de camisinhas eram vendidas anualmente em todo o mundo.
Apesar de terem se tornado popular no início do século XX, a história dos preservativos começou bem antes. Por volta de 3.000 a.C., o rei Minos de Creta usava a vesícula biliar de uma cabra para proteger sua esposa de seu sêmen, cuja cultura da época dizia ser "infestado de serpentes e escorpiões".
(Fonte: Getty Images)
Antes do século XV, na China e no Japão, eram usados de maneira limitada os preservativos que cobriam apenas a glande do pênis. A documentação médica mostra que os chineses o faziam com papel de seda ou intestino de cordeiro; enquanto no Japão, as camisinhas eram feitas de carapaça de tartaruga ou chifre de animal.
Como sempre, a modernização ficou a cargo dos egípcios antigos, que usavam bainhas de linho tingidas em cores diferentes tanto para distinguir entre classes de pessoas, quanto proteger contra o sêmen. Os romanos antigos foram mais rudimentares, chegando a usar desde intestino de animais até músculos de seus combatentes mortos como preservativo.
Reza a lenda que o pioneiro no preservativo foi o médico particular do rei Charles II da Inglaterra, conhecido como Dr. Condom.
Rei Charles II da Inglaterra. (Fonte: Wikimedia Commons)
Charles II era conhecido como o "monarca alegre" devido ao seu comportamento hedonista, e também por fazer o possível para acabar com o puritanismo em relação à realeza quando ascendeu ao trono. Por isso, foi bastante aberto sobre sua vida pessoal.
O monarca teve pelo menos 12 filhos ilegítimos que reconheceu, de sete mulheres diferentes, e também um número desconhecido de filhos não reconhecidos. Quase tanto quanto Eduardo II da Inglaterra, despudorado, Charles fazia sexo quase ao vivo com prostitutas e atrizes. Por isso, sua vida era infame, com mulheres apresentando seus filhos diante de todo mundo – algo que ele encarava com naturalidade.
Sendo assim, Charles teria sido presenteado com preservativos de linho pelo seu médico real para impedi-lo de gerar mais filhos ilegítimos. Com isso, em plena metade de 1600, o método de controle de natalidade teria popularizado, a princípio, em meio a membros da corte e da realeza, depois espalhando entre a população, ainda que de maneira diferente – ou seja, mais barata.
Foi assim que surgiu a imagem do Dr. Condom ("Dr. Preservativo", no português), um médico da realeza que teria inventado uma maneira de os homens não engravidarem as mulheres. Essa história consta no poema de 1667 de John Wilmot, o Conde Rochester, intitulado A Panegyric Upon Cundum. O poema é uma espécie de ode e homenagem formal ao "inventor" da camisinha.
(Fonte: Getty Images)
Contudo, como o British Medical Journal salientou, os historiadores que investigaram a história, não encontraram evidências da existência de um Dr. Condom, apenas menções em grafias diferentes, como Dr. Condon ou Dr. Condum.
Devido ao histórico sobre o comportamento jocoso e irreverente de Rochester, é possível que o Dr. Condom tenha sido uma invenção sua. E, como a história tem a mania de "aumentar um ponto a cada conto", acabou sendo associada a vida pessoal muito pública de Charles II.
A verdade é que a fabricação da camisinha de borracha como conhecemos, ou pelo menos similar, começou durante a Revolução Industrial, em 1839, quando Charles Goodyear inventou a vulcanização da borracha. Os primeiros preservativos feitos com esse material foram fabricados em 1855, sendo que demorou mais 5 anos para que uma produção em massa começasse.
John Wilmot. (Fonte: National Portrait Gallery/Reprodução)
Na década de 1920 surgiu o látex, feito a partir de um processo com borracha e água, o que barateou os preservativos e também tornou sua produção mais fácil. Rapidamente, os preservativos feitos de borracha foram substituídos em popularidade.
O primeiro preservativo lubrificado só surgiu em 1957, pela Durex. Nessa época, o uso aumentou, com 42% das pessoas sexualmente ativas entre 1955 e 1965 contando com os preservativos lubrificados para controle de natalidade e prevenção contra ISTs.
Dizer que esse tal de Dr. Condom inventou a camisinha, quando ela já era usada bem antes, é algo muito forte. Talvez, o certo seria dizer que ele apenas contribuiu na disseminação dela e do método de controle de natalidade – e de maneira despretensiosa, como parte de seu trabalho como médico do rei.