Artes/cultura
24/09/2023 às 06:00•3 min de leitura
Abu Abd Allah Muhammad al-Idrisi al-Qurtubi al-Hasani al-Sabti – ou simplesmente Al-Idrisi – foi um cartógrafo árabe que viveu durante o século XII. Ele foi responsável por um feito incrível: criou um mapa-múndi que até hoje é incluído em atlas modernos, embora muitas coisas novas tenham sido descobertas desde a sua época.
Por mais que seus mapas sejam incompletos (por motivos absolutamente compreensíveis), eles até hoje são motivo de admiração, e ajudaram a ditar os rumos na exploração do planeta nos séculos seguintes.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Al-Idrisi era um viajante muçulmano que viveu na Sicília e desempenhou atividades como geógrafo, cartógrafo e egiptólogo. Ele era descendente da dinastia xerifiana Hammudid, que governou Málaga, Ceuta e Tânger até o século XI.
O que se sabe sobre ele é que estudou em Córdoba, na Espanha, e que viajou para vários países e continentes. Por volta de 1144, Al-Idrisi foi convidado por Rogério II, rei da Sicília, para viver em sua corte. Um dos motivos que pode ter inspirado o convite é o interesse do rei pela geografia.
Al-Idrisi logo se tornaria conhecido como um grande geógrafo. Seu conhecimento o levou a criar uma visualização abrangente das partes do mundo já visitadas por diferentes povos. Ele usou uma grande bola de prata para registrar detalhes sobre os continentes, incluindo rotas de comércio, lagos, rios, cidades e montanhas.
A partir desse globo, o cartógrafo elaborou o Al-Kitab al-Rujari (também chamada nos países de línguas latinas como Tábula de Roger), cujo nome em árabe pode ser traduzido como “O livro de viagens agradáveis a terras distantes” ou “A excursão daquele que anseia por penetrar os horizontes”.
Para fazer o mapa, Al-Idrisi entrevistou tripulações de navios e viajantes experientes, conservando apenas as versões sobre o planeta que todos concordavam. No fim, ele levou cerca de quinze anos para concluir o trabalho.
O atlas foi publicado em forma de livro e apresenta sete zonas climáticas, de acordo com o sistema de Ptolomeu. Ele mostra o continente da Eurásia (grande espaço que junta a Europa e a Ásia) e a parte norte da África. Por três séculos, foi considerado o mapa mais preciso que existia.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A Tábula de Roger permaneceria como um atlas oficial por centenas de anos, e ajudaria muita gente a se guiar pelos caminhos da Europa a partir do que ele indicava. Ao fim, o mapa reuniu as percepções geográficas dos gregos, dos vikings e dos árabes, três civilizações conhecidas por suas intensas explorações.
Mas por mais que ele tenha sido um mapa-múndi mais preciso do que os que vieram antes, ele continha erros. Onde se vê a "Grande Irlanda" está provavelmente a Groenlândia, ilha e território dinamarquês autônomo localizado entre o Atlântico Norte e o Oceano Ártico.
Tabula Rogeriana. (Fonte: Wikimedia Commons)
A Europa, no mapa, está incompleta. Além disso, a África parece exagerada e parcial, e o desenho é feito de uma forma estendida, criando uma sensação equivocada de que Al-Idrisi fosse um terraplanista.
Outro detalhe equivocado é que ele está de ponta cabeça. Assim como outros mapas árabes dessa época, o sul aparece no topo. Acredita-se que isso tenha sido feito para ajudar os recém-convertidos ao Islã a se orientarem em direção a Meca.
Na verdade, os desenhos de Al-Idrisi não envolvem apenas um mapa, mas 70 deles, criando uma visão do mundo no total de 2,7 metros de comprimento. Apenas séculos mais tarde é que se imaginou uma visualização circular do planeta. Mas isso não significava que o cartógrafo não soubesse que o mundo era redondo: ele chegou a calcular a circunferência do planeta em cerca de 37 mil quilômetros.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Um fato curioso é que o rei Rogério II, que encomendou o mapa, mal pode aproveitá-lo, pois morreu poucas semanas após a conclusão. Assim, o enorme disco de prata e a versão original do atlas foram destruídos em 1160 pelos sucessores de Rogério II. Al-Idrisi acabou fugindo para a África e levou a versão em árabe do seu trabalho, preservando o mapa.
No fim das contas, os mapas de Al-Idrisi se tornaram muito influentes, especialmente no mundo árabe. Eles foram traduzidos para as línguas latinas apenas em 1619, o que significa que os europeus levaram mais de 500 anos até finalmente conhecerem o seu trabalho.
Hoje restam apenas dez cópias manuscritas da Tábula de Roger, sendo que cinco delas foram conservadas em sua versão completa. O mais inteiro entre os atlas é o Manuscrito de Istambul, em que foram preservados todos os 70 mapas.
Al-Idrisi acabou entrando para a história como um dos pais da geografia medieval, e foi homenageado com uma estátua no Marrocos.