Artes/cultura
21/07/2023 às 10:00•3 min de leitura
A capital paulista tem quase 12 milhões de habitantes, segundo o Censo 2022. Encontrar um espaço nessa concorrida cidade não é tarefa fácil. Por isso, não é estranho que tenha surgido nessa metrópole uma tendência que divide opiniões: os chamados “microapartamentos”.
Antigamente, esses espaços eram mais conhecidos como “quitinetes”, uma versão abrasileirada do termo em inglês kitchenette, que pode ser traduzido como “pequena cozinha”. As quitinetes são por definição espaços de apenas um cômodo, que unem cozinha, quarto e espaço de convivência — tudo isso com até 50 m2.
Mas 50 m2 é mais do que três vezes o tamanho dos microapartamentos, que têm em média 16 m2. Em 2016, a cidade de São Paulo tinha 461 unidades com essa metragem. Em 2022, os microapartamentos já eram 16.261, segundo dados do Secovi-SP.
Planta de um microapartamento considerado maior, com 28m² Divulgação: Ideia Zarvos
Talvez, você esteja pensando que essas opções de moradia podem ter seu lado positivo. Por serem imóveis tão pequenos, os preços devem ser atrativos, não é? Ledo engano.
Os microapartamentos paulistanos ficam em áreas nobres da cidade, próximos às estações de transporte público, de comércios, de áreas empresariais e de lazer. Em tese, o morador teria que se deslocar pouco e essa seria uma vantagem competitiva que justificaria os altos preços de compra e de aluguel.
O preço médio das unidades é de R$ 14 mil por metro quadrado, o que faz com que esses imóveis não saiam por menos de R$ 200 mil. Contudo, o foco dos proprietários não é ganhar dinheiro com a venda das unidades, mas com a locação. Morar em um apartamento tão pequeno custa mais de R$ 2300 por mês, sem o condomínio e as taxas, é claro.
A ideia dos microapartamentos foi aprovada no Plano Diretor da Cidade. Esse plano é um conjunto de regras que tem como meta direcionar as construções de um município, com o objetivo de evitar o caos urbano com o trânsito e a falta de acesso a serviços públicos, por exemplo.
A ideia era que a oferta de imóveis pequenos em regiões próximas ao centro traria os trabalhadores para a região, contribuindo para o acesso à moradia da população a preços populares e evitando que elas precisassem perder tempo no trânsito.
No entanto, devido à especulação imobiliária, o efeito não foi o desejado, criando unidades caras, cujo foco foi a locação.
Reportagem da revista Veja São Paulo listou os bairros que mais contam com esse tipo de imóveis:
Fonte: Getty Images
Verdade seja dita: os microapartamentos não são uma tendência apenas em São Paulo. Todavia, fora da capital paulista, eles parecem oferecer mais vantagens financeiras aos consumidores.
Um estudo feito pela empresa Quinto Andar mostra que os preços com locação em microapartamentos podem ser até 50% menor em cidades como Belo Horizonte e Fortaleza e 20% menor em Curitiba. O estudo analisou sete capitais brasileiras.
Microapartamento japonês de 9m2 Reprodução: Japão Real
É possível que você esteja pensando que o alto preço dos imóveis para compra seja um problema exclusivo do Brasil ou de países em desenvolvimento. Não é.
Em Londres, por exemplo, a situação pode ser até pior. Uma reportagem do jornal alemão DW mostra que os ingleses estão morando em bairros cada vez mais distantes, em imóveis antigos e frios, pagando cada vez mais caro por isso. Além disso, os proprietários pedem até seis meses de aluguel adiantado e cobrem até mesmo para os que as pessoas visitem os que pretendem locar.
Essa situação fez com que o número de adultos britânicos que moram com os pais aumentasse. Hoje, são 700 mil a mais do que eram há 10 anos, chegando a quase quatro milhões de indivíduos.
Em Portugal, a dificuldade em encontrar imóveis para morar também existe e é apontada como um dos principais desafios enfrentados pelos imigrantes brasileiros.
Na Ásia, a situação se repete nos grandes centros, sendo que viver em cibercafés se tornou uma situação comum em Tóquio.
De acordo com dados do Ministério da Integração Nacional e do Desenvolvimento Regional de 2019, o déficit de moradias no Brasil é de 5,8 milhões de unidades.
Um dos principais desafios desse cenário é justamente o preço dos aluguéis, pois mais de três milhões de casas estavam vazias, aguardando inquilinos. Se estivessem locadas, o déficit de moradias seria quase 50% menor.