Conheça a história da zona de prostituição no bairro do Bom Retiro, em São Paulo

05/08/2023 às 13:003 min de leitura

Uma história revelada pela BBC tem chamado muita atenção por seu aspecto curioso, mas também de desrespeito aos direitos humanos. Durante os anos de 1940 e 1953, o governo de São Paulo decretou a instalação da zona de meretrício do Bom Retiro, bairro da maior cidade do Brasil.

Sim, São Paulo já teve uma região separada exclusivamente para funcionar como uma zona de prostituição. A medida foi decretada na época por Ademar de Barros, interventor do Estado de São Paulo, nomeado pelo presidente Getúlio Vargas.

Sobre as razões do decreto, Barros argumentou: "essa medida trará inúmeros benefícios: não só para facilitar o policiamento, como também, por oferecer um interessante campo para estudos sociais, defendendo, ao mesmo tempo, a ordem e a moralidade públicas".

A proposta por trás da zona de meretrício

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Historiadores se debruçam sobre esta história para verificar as razões pelas quais as prostitutas foram confinadas a duas ruas do bairro do Bom Retiro. Segundo o historiador Enio Rechtman, que escreveu a dissertação de mestrado Itaboca, rua de triste memória: imigrantes judeus no bairro do Bom Retiro e o confinamento da zona de meretrício (1940 a 1953), a elite paulistana da época não queria conviver com estas mulheres nem com seus clientes.

"A maioria (das prostitutas) era de mulheres empobrecidas e migrantes brasileiras", afirma Rechtman. Assim, para muita gente, fazia muito sentido deixar essas pessoas reclusas a uma região – estando, deste modo, estimuladas a não interagir com o resto da cidade.

A matéria da BBC chama bastante atenção por conta de uma coincidência: a zona do meretrício do Bom Retiro existiu em uma região muito próxima a onde, 80 anos depois, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, cogitou deslocar a Cracolândia. A sugestão gerou tanta polêmica que ele desistiu da ideia.

Assim, há semelhança entre as histórias, que envolvem uma política de higienismo social – ou seja, a proposta de deslocar pessoas tidas como "indesejáveis" para lugares onde não possam ser vistas, ao invés de tratá-las como seres humanos que precisam de políticas públicas.

Enio Rechtman, inclusive, aponta que a perspectiva higienista era vigente na época da zona do Bom Retiro. "Getúlio Vargas e Ademar de Barros nutriam ideais eugenistas [teoria baseada na genética de que seria possível criar uma 'raça humana superior'] e higienistas", afirmou à BBC.

O encerramento da zona do Bom Retiro

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Na década de 1930, a prostituição começou a se alastrar na região e passou a ser vista como uma ameaça à modernização da cidade – embora as duas coisas estivessem interligadas.

A historiadora Margareth Rago, autora de Os prazeres da noite: prostituição e códigos da sexualidade feminina em São Paulo, 1890-1930, explica à BBC: "Quando São Paulo começa a se urbanizar, é o momento em que a preocupação com a prostituição cresce. A prostituição existia em outras épocas, mas não era um problema. Vira um problema para as elites quando se entende que ela seria uma má influência para as mulheres ricas e castas. E isso passa para a classe trabalhadora – também os operários vão olhar para suas esposas e dizer que 'mulher que é mulher é rainha do lar', vendo a prostituição como uma ameaça."

O Bom Retiro foi escolhido para receber a zona de meretrício por ser uma espécie de "periferia do Centro". "Aquela região era perfeita para fazer um confinamento, porque, fechando duas ruas, era possível fechar um quarteirão inteiro e controlar o fluxo de entrada e saída de pessoas", afirma Rechtman.

Com o passar dos anos e o aumento de bares e de profissionais do sexo, a zona do Bom Retiro começou a gerar muitas reclamações e terminou desativada por ordem do governador Lucas Nogueira Garcez. Isso foi feito sob muita confusão, uma vez que as prostitutas não acataram a decisão.

O poder público fez de tudo para apagar essa história, o que incluiu mudar o nome das ruas. Ainda assim, a memória permanece – o que, vale lembrar, é um fator primordial para a humanidade não esquecer (e não repetir) o seu passado.

Fonte

NOSSOS SITES

  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • Logo Mega Curioso
  • Logo Baixaki
  • Logo Click Jogos
  • Logo TecMundo

Pesquisas anteriores: