Estilo de vida
07/07/2024 às 18:00•3 min de leituraAtualizado em 07/07/2024 às 18:00
Sexo vende e os números não deixam negar. Em 2013, um artigo do Huffington Post chocou a todos ao mostrar que 30% do tráfego online estava relacionado a pornografia e que sites pornográficos recebem mais visitantes a cada mês do que Netflix, Amazon e Twitter juntos. Uma década depois, um novo estudo publicado no Journal of Sex Research questionou se a pornografia preservou seu lugar mesmo após a ascensão vertiginosa das mídias digitais.
A resposta foi sim. O XVideos, Pornhub, XNXX e Xhamster, usados como referência para o estudo, não só expandiram muito suas ofertas como apelo a sua audiência. O XVideos, o site de pornografia mais bem classificado, obteve 700 milhões de visitas totais a mais do que a Amazon; 900 milhões a mais do que o TikTok; e até 1,5 milhão que a Netflix.
Os autores do estudo de 2023 também analisaram as taxas de rejeição que indicam a porcentagem de visitantes que deixam um site depois de visualizar apenas uma página. Eles descobriram que os sites pornôs mencionados acima tinham taxas mais baixas do que sites não pornográficos. Ou seja, não só as pessoas visitam esses sites com mais frequência como tendem a navegar por eles.
E com a expansão do espaço virtual, a indústria virtual de sexo tende a prosperar. Surgiu na Alemanha o Cybrothel, o primeiro bordel de inteligência artificial do mundo.
O metaverso é uma nova camada da realidade que integra os mundos real e virtual em um ambiente imersivo construído por meio de diversas tecnologias, de realidade virtual a realidade aumentada e hologramas. Há muito que a necessidade em viver uma experiência cada vez mais imersiva deixou de ser apenas algo para o mundo dos jogos e se tornou um mercado extremamente rentável, podendo chegar a US$ 800 bilhões (R$ 4,5 trilhões) em 2024, segundo a Bloomberg Intelligence.
Tendo isso em mente, em 2020, o cineasta e artista alemão Philipp Fusseneger, juntamente com Matthias Sujmo e Alexis Smiley Smith fundaram o Cybrothels, em Berlim, o primeiro bordel de AI.
Os worldbuilders usaram suas diversas experiências para combinar tecnologia com aluguel de bonecas sexuais em tamanho real que podem se mover, falar e interagir com os clientes no reino virtual, onde eles assistem pornografia 4D imersiva e desfrutam das mais variadas experiências com seu sex-bot preferido.
Os clientes também podem usar a opção de sexting (a prática de troca de mensagens eróticas) com a boneca virtual. Segundo Smetana, o próximo passo da Cybrothels é desenvolver a próxima geração de bonecas sexuais de AI que respondam ao toque e falem em tempo real.
Smetana não só é um especialista em inteligência virtual como um grande empreendedor do mercado de Sextech, um ecossistema de empresas e startups que investem na criação e inovação do mercado de sexualidade. Sua intenção com a Cybrothels é buscar uma experiência mais do que inovadora aos visitantes de primeira viagem, mas também proporcionar um ambiente livre de pressão.
"Se você está aqui, a única pessoa que pode julgá-lo é você mesmo", disse Smetana, em entrevista à news.com.
Ele viu a urgência de pessoas que nunca tiveram contato com trabalho sexual, que estão ansiosas para experimentá-lo, mas que procuram um espaço seguro para fazê-lo. Não só em questão de ansiedade de desempenho, quanto o julgamento da sociedade e dos humanos que realizam o trabalho. No Cybrothels, eles estão imunes a tudo isso.
A criação da empresa da qual Smetana é sócio também se baseou em um fenômeno que está acontecendo nos últimos anos na Alemanha: a queda na quantidade de profissionais do sexo. Em 2002, a legislação alemã legalizou e regulamentou a prostituição no país, dando benefícios sociais às profissionais da área, bem como obrigações, como o registro. No entanto, os bordéis não reabriram mais desde que a pandemia de Covid-19 atingiu o mundo em março de 2020.
O número de prostitutas registradas caiu 38% em relação aos números pré-pandêmicos, segundo o Departamento Federal de Estatísticas. O atraso na reabertura dos processos de registros, interrompidos pela pandemia, também contribuíram para números tão baixos.
A pesquisa de Smatana sobre o mercado revelou que aqueles que procuram pelas profissionais tradicionais devem desaparecer nos próximos 10 ou 15 anos. Ele acredita que a indústria do sexo vai avançar mais na direção da realidade virtual e será combinada ao sexo feito no mundo físico ao mesmo tempo.
Emma Bennet, gerente sênior do premiado bordel Onyxx, em Townsville, Austrália, discorda de Smatana. Ela não vê sua clientela abraçando o "sexo sci-fi" porque o toque humano e conexão são o que eles procuram. Para Bennet, só existe um tipo de interação sexual humana, e esta é feita de maneira real, portanto, duvida que muitas pessoas vão se interessar em pagar por um sexo sem “emoções reais e pele na pele”.
Quanto a isso, a sexóloga somática Alice Child observou que, apesar de o tipo de experiência sexual oferecida pela Cybrothels realmente promover a exploração da sexualidade, não é saudável a substituição da intimidade humana como forma de evitar confrontar ansiedades.
"Um lugar sem julgamento é um lugar sem vulnerabilidade, e o sexo é inerentemente vulnerável", pontuou ela.
Child disse que, se um indivíduo teme ser íntimo com outro, utilizar o sexo com inteligência artificial pode apenas roubar ainda mais a capacidade de ter uma futura experiência humana, não a encorajar, retraindo essa pessoa ainda mais.