Ciência
04/10/2013 às 09:43•3 min de leitura
Um dos mistérios ainda não resolvidos pela ciência é o que teria feito com que os nossos ancestrais fossem gradativamente alinhando sua postura até chegar ao bipedismo que conhecemos hoje. Conforme mostramos nessa notícia, algumas pesquisas apostam que mudanças no clima e no relevo podem ter influenciado a locomoção. Já nesse artigo, a teoria defende que a posição ereta nos permite economizar energia e carregar mais comida, por exemplo.
Aproveitando que a comunidade científica ainda não chegou a um consenso, acaba de surgir um novo estudo que defende que uma abertura localizada na base do crânio pode ser um fator determinante para a postura que um ser vivo adotará na sua vida. O nome técnico dado a essa abertura é “forame magno” (ou foramen magnum) e é por onde a medula espinhal e outros tecidos delicados passam.
Animação mostra a posição do forame magno em humanos. Fonte da imagem: Reprodução/National Geographic
Se os pesquisadores comprovarem que o forame magno indica a posição da coluna com relação à cabeça – e isso for determinante para dizer que um ser é bípede ou que se move de alguma outra maneira –, então a posição dessa abertura pode indicar quando nossos ancestrais desenvolveram uma postura ereta.
Os antropologistas Gabrielle Russo e Christopher Kirk são os responsáveis pelo estudo publicado no periódico Journal of Human Evolution, que aponta que “as tentativas anteriores de relacionar a posição do forame magno com o bipedismo foram especialmente complicadas pelo fato do H. sapiens ser o único primata tipicamente bípede”. Apesar disso, a dupla ressalta que o bipedismo se desenvolveu de maneira independente entre alguns grupos de mamíferos além dos primatas.
Para tirar as primeiras conclusões, Russo e Kirk trabalharam com primatas, marsupiais e roedores para comparar os animais bípedes com os seus equivalentes quadrúpedes. O que eles puderam notar é que as espécies que apresentam maior tendência ao bipedismo – como é o caso dos cangurus, por exemplo – têm o forame magno projetado, ou seja, posicionado mais para frente. Curiosamente, o mesmo acontece com os humanos, cuja posição da abertura se diferencia de todos os primatas.
Os lêmures mantêm uma posição ereta, mas também se locomovem com a coluna na horizontal. Fonte da imagem: Reprodução/Shutterstock
Ao analisar humanos extintos e alguns primatas mais próximos, os antropólogos mostraram que a posição da cavidade craniana é influenciada pelos movimentos, assim como pela postural corporal. No entanto, os dois fatores não andam necessariamente juntos, como podemos ver nos lêmures, por exemplo, que conseguem se manter eretos mas se locomovem com a coluna na horizontal. Aplicando essa teoria aos nossos ancestrais pré-históricos, Russo e Kirk concluíram que a posição do forame magno pode servir como um indicador da locomoção dos bípedes, mas não é possível determinar ao certo a posição da coluna.
Pelo menos dois fósseis de primatas considerados os “primeiros humanos” – Ardipithecus e Sahelanthropus – aparentam ter o forame magno mais semelhante com o nosso atualmente do que com o de primatas. Os pesquisadores concluem que os dois fósseis podem ter sido seres bípedes, mas será que isso significa que eles fazem parte da linhagem humana?
De acordo com Brian Switek, colunista do site National Geographic, o bipedismo não é uma condição anatômica que permite associar parentescos, mas sim um modo de locomoção que se desenvolveu de muitas maneiras ao longo do tempo e se apresenta de diferentes formas. A maneira com que um canguru é bípede não é a mesma maneira com que nós somos bípedes, por exemplo.
Fonte da imagem: Reprodução/Shutterstock
“O jeito com que o Ardipithecus e o Sahelanthropus executaram o seu bipedismo provavelmente difere da forma como o fazemos e ainda não se sabe se esses primatas são nossos ancestrais ou se são experimentos primários cuja linhagem foi extinta há milhares de anos. Continuamos procurando por um forame magno projetado como um marco da humanidade por causa da maneira que nossa espécie é hoje, mas quem pode dizer o que ainda deve ser encontrado nas lacunas pouco conhecidas da família dos primatas da qual nossos ancestrais saíram”, finaliza Switek