Ciência
31/03/2018 às 02:00•4 min de leitura
Você já ouviu falar a respeito das Cruzadas, certo? Resumidamente, elas tiveram início em 1095, após o Papa Urbano II lançar o chamado aos cristãos para que eles fossem à guerra contra os sarracenos na Terra Santa. Depois de Jerusalém passar para as mãos dos europeus em 1099, (oficialmente) os conflitos e invasões continuaram até o final do século 13, quando os muçulmanos finalmente expulsaram os seguidores do cristianismo e os mandaram de volta à Europa.
Na realidade, as Cruzadas continuaram acontecendo durante muito tempo depois de os cristão serem expulsos da Terra Santa, especialmente com o propósito de conquistar terras e frear o avanço dos muçulmanos, mas caíram em declínio durante o século 16 com o início da Reforma Protestante e o declínio do poder papal na Europa.
Historicamente falando, as Cruzadas tiveram um papel fundamental na redefinição da estrutura social da Europa — afetando a expansão do Velho Continente durante a Idade Média e o seu desenvolvimento. Além disso, elas também são um capítulo pra lá de controverso da história do cristianismo, e a seguir você pode conferir quatro eventos marcantes que aconteceram durante esse período:
Dois dos personagens mais famosos de todas as Cruzadas foram o Rei Ricardo I da Inglaterra — também conhecido como Ricardo Coração de Leão — e Saladino (ou Salah ad-Din Yusuf ibn Ayyub), o líder militar curdo que comandou os conflitos contra os cruzados europeus durante o século 12.
Os dois eram grandes rivais, mas mantinham uma relação de nobreza, cavalheirismo e respeito mútuo. Em determinado momento, o monarca inglês traçou um plano para dar um fim à guerra. Ricardo propôs que o irmão de Saladino, al-Adil, se casasse com sua irmã, Joana, mas se esqueceu de um pequeno detalhe.
Coração de Leão iniciou as negociações com o curdo antes de consultar a moça, e o cara aceitou a oferta. Só que Joana, quando soube do acordo, disse que não ia se casar com muçulmano algum, e Ricardo, sem muita opção, então perguntou a Saladino se seu irmão, por acaso, não estaria interessado em se converter ao cristianismo.
É claro que o curdo disse que não, e o monarca britânico ainda tentou remediar a situação, oferecendo sua sobrinha no lugar de Joana. Mas, a essa altura, Saladino se cansou da história e o plano de Ricardo de acabar com as cruzadas sem mais banho de sangue foi por água abaixo. No fim, os muçulmanos venceram a guerra e conquistaram Jerusalém, e o rei inglês foi embora — depois de garantir que Saladino permitiria a presença cristã na cidade.
Todo mundo conhece pessoas que são cheias de promessas, mas, na hora do “vamos ver”, dão pra trás e deixam todo mundo na mão. Pois Frederico II era um desses caras, e o pior é que ele era influente. Em posse dos títulos de Rei da Sicília, Rei da Tessalônica, Rei de Chipre, Rei dos Romanos, Rei da Germânia e Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, Fred ainda se autoproclamou Rei de Jerusalém em 1229 — mas já vamos contar como foi isso.
Tendo em vista o poder do monarca, o Papa Honório III começou a cobrar de Frederico as promessas que ele havia feito tanto a ele como ao Papa anterior, Inocêncio III, de que o rei participaria das Cruzadas. No entanto, mas como ele não cumpria com sua palavra, o Papa seguinte, Gregório IX, cansou de esperar e resolveu excomungar Frederico.
Com isso, Fred finalmente decidiu ir à Terra Santa — e não só foi excomungado pela segunda vez por partir sem a sanção do Papa, como também foi acusado de ser o anticristo! Na verdade, Frederico estava interessado em conquistar mais poder e, sem travar nenhuma batalha sequer, deu um jeito de fazer um trato com o sultão egípcio Malik al-Kamil, que concedeu ao europeu o domínio sobre Belém, Nazaré, Jafa e Jerusalém.
Em troca, os muçulmanos manteriam o controle sobre o Templo de Jerusalém e a cidade deveria ser mantida sem defesas, e assim teve início uma trégua entre cristãos e sarracenos que durou 10 anos. Frederico aproveitou para se autoproclamar Rei do lugar — e foi excomungado de novo! Assim que o “prazo de validade” do combinado venceu, os muçulmanos voltaram a dominar a cidade e ela permaneceu sob o seu controle até 1917.
Os Cavaleiros Templários, como você sabe, formavam uma classe de guerreiros fundada durante as Cruzadas para defender os cristãos na Terra Santa e também foram os responsáveis por estabelecer um sistema bancário que, na época, permitia que peregrinos e cruzados pudessem depositar somas em dinheiro na Europa e retirá-las no Oriente — e vice-versa — e, dessa forma, viajar de forma mais segura.
Os Templários mesmo faziam votos de pobreza, mas, com a introdução do sistema bancário, a organização se tornou incrivelmente poderosa e rica — e não demorou até que alguns figurões gananciosos começassem com tramoias.
Entre eles estava o Rei Filipe IV da França — ou Filipe, o Belo —, que, depois de passar décadas torrando todo o ouro que tinha em seus cofres embelezando a corte e em guerras contra os ingleses, convenceu o Papa da época, Clemente V, de que os Templários eram corruptos e hereges.
O pior é que, mesmo sem ter evidências de que os cavaleiros da ordem haviam cometido crimes, eles foram presos, tiveram suas propriedades confiscadas e foram condenados à morte. Além disso, Jacques de Molay, o grão-mestre dos Templários, foi queimado na fogueira como herege no século 14.
As Cruzadas, embora não contassem exclusivamente com a participação de guerreiros profissionais, não eram brincadeira de criança. No entanto, existem lendas a respeito de dois meninos que teriam liderado grupos de crianças com o objetivo de lutar na Terra Santa. Um deles seria um rapazinho francês chamado Stephen de Cloyes — de apenas 12 anos de idade — que teria reunido um exército composto por 30 mil garotos.
O grupo de Cloyes teria conseguido apoio real e se dirigido até Marseilles, onde encontraram dois mercadores que concordaram em levar todos à África. No total, sete navios partiram da França, mas apenas cinco chegaram ao seu destino e, uma vez lá, todos os passageiros foram vendidos como escravos. O outro rapazinho seria um alemão chamado Nicholas, que teria liderado diversos grupos de adolescentes de várias partes da Alemanha.
Neste segundo caso, boa parte dos garotos morreu enquanto o grupo atravessava os Alpes com destino ao porto de Gênova. Para piorar, Nicholas teria prometido aos meninos que as águas do Mediterrâneo se abririam — ao melhor estilo Moisés e o Mar Vermelho —, permitindo que eles seguissem viagem até a Terra Santa.
Só que o milagre não aconteceu e os planos da Cruzada acabaram morrendo. Com isso, muitos dos jovens que acompanharam Nicholas acabaram ficando na cidade portuária, onde arranjaram empregos para sobreviver. Outros tantos foram a Roma para ouvir do Papa que eles deveriam voltar para suas casas, e enquanto isso o pai do líder dos meninos foi preso e condenado à morte por familiares enfurecidos por perderem seus filhos.
*Publicado em 11/1/2016