Ciência
11/10/2019 às 10:08•3 min de leitura
Não é incomum encontrar pessoas com medo de encarar uma viagem a bordo de um avião. Há os que ficam nervosos, mas encaram, há os que precisam de um calmante e há aqueles que simplesmente não conseguem subir as escadas de um avião para voar por aí. E não adianta dizer que o avião é um meio de transporte seguro e que a chance de um acidente é muito pequena.
É pequena, mas acontece e, alguns episódios são, realmente, aterrorizantes. O Brasil mesmo já registrou alguns acidentes trágicos, como o acidente que vitimou praticamente todo o time de futebol da Chapecoense, além de jornalistas e outros profissionais.
Mas, a história de Juliane Koepcke é diferente. Adolescente de 17 anos em 1971, Juliane se transformou na personagem principal de uma história triste, mas de superação, e que mostra o quanto a vontade de viver pode, realmente, salvar uma vida.
A adolescente nasceu no Peru, mas tinha pais alemães, que trabalhavam envolvidos diretamente com a natureza e o meio ambiente. A mãe era ornitóloga e o pai, zoólogo. Durante um sobrevoo na Amazônia com a mãe, o avião no qual estava Juliane entrou em combustão depois de ser atingido por um raio. A queda brusca e violenta vitimou sua mãe, que não sobreviveu ao acidente de avião, mas Juliane lutou para “contar a história”. Sobreviver a um acidente de avião foi apenas o começo de uma história de superação que duraria 10 dias em meio a selva amazônica.
Ser filha de pais diretamente envolvidos com a natureza deu a ela uma vantagem e tanto. Os pais eram dedicados a estudar a floresta amazônica e, com isso, ela acabou passando muito tempo no ambiente que seria seu maior desafio.
Juliane explicou em entrevista à BBC, que no momento do acidente havia uma tempestade e que um raio atingiu o avião enquanto sobrevoavam a floresta. “Após cerca de 10 minutos, vi uma luz muito brilhante no motor externo à esquerda. Minha mãe disse calmamente: 'Esse é o fim, está tudo acabado'. Essas foram as últimas palavras que eu ouvi dela”, disse.
Ela disse ainda que lembra de estar fora da cabine, amarrada ao banco e pendurada de cabeça para baixo. “O sussurro do vento era o único barulho que eu conseguia ouvir”, contou. Juliane perdeu a consciência com o impacto do avião no solo.
Ela acordou no dia seguinte e o saldo do acidente foi uma clavícula quebrada e cortes profundos. A única chance de sobreviver ao acidente era caminhar pela floresta em busca de alguém que pudesse ajuda-la e ela sabia o quão perigoso poderia ser o ambiente, com animais selvagens e plantas tóxicas.
Com a visão comprometida, ela utilizou um sapato que conseguiu resgatar da queda para testar o terreno. Além disso, se alimentou de doces que também “sobreviveram” à queda. No caminho, Juliane se deparou com corpos de algumas vítimas do acidente. “Fiquei paralisada pelo pânico. Foi a primeira vez que vi um corpo morto”, lembrou. Em sua jornada, ela ainda teve que retirar larvas das feridas.
A adolescente foi encontrada, 10 dias depois, por madeireiros que trabalhavam na floresta. Com o espanhol perfeito, ela conseguiu explicar tudo sobre o acidente e eles a resgataram e cuidaram de seus ferimentos, levando Juliane para fora da floresta no dia seguinte, onde se encontrou com o pai.
O corpo da mãe da adolescente foi encontrado dias depois de Juliane ser resgatada. Hoje, ela mantém o legado da mãe, trabalhando como bióloga na Alemanha.