O que aconteceu com o pequeno Albert, cobaia de experimento humano

27/01/2020 às 14:004 min de leitura

O Condicionamento Clássico, também conhecido como Condicionamento Pavloviano Respondente, é o processo psicológico da gênese de aprendizagem de respostas automáticas ou reflexivas que não partem de um comportamento voluntário. O estudo relacionado corresponde aos efeitos do binômio de estímulo-resposta no sistema nervoso central de humanos e animais, ou seja, a resposta que deve ocorrer abaixo do nível da consciência, como salivação, aumento ou diminuição da frequência cardíaca, dilatação ou constrição da pupila, reflexo motor, náusea etc.

O primeiro a descobrir e se aprofundar na ideia básica do Condicionamento Clássico foi o fisiologista russo Ivan Pavlov. Responsável por teorizar e enunciar esse mecanismo e abrir caminho para o desenvolvimento da reflexologia e da psicologia comportamental, o homem tirou as suas conclusões fazendo experimentos de salivação com cães.

Em 1919, querendo fundamentar a sua ideia da "psicologia da aprendizagem", o psicólogo John Broadus Watson criou um dos mais controversos e antiéticos estudos empíricos da psicologia: o Experimento do Pequeno Albert.

As raízes da mente

(Fonte: Brainly/Reprodução)

O homem se posicionava como um engenheiro que estava no extremo espectro da criação, acreditando que podia moldar o homem como se fosse uma espécie de semideus. Ele afirmava que qualquer bebê saudável e bem formado escolhido aleatoriamente poderia ser treinado para ser especialista de áreas variadas, como médico, artista, advogado, chefe de comércio e até ladrão, independentemente das habilidades, tendências ou vocações intrínsecas de raça e ancestralidade.

Dentro de seu "mundo especificado", o ato sentimental era obsceno e deveria ser evitado, para que a criança não desenvolvesse um "distúrbio emocional", por isso ele decidiu provar a sua teoria fabricando uma fobia. Foi partindo desse princípio que, no hospital universitário Johns Hopkins University Hospital, em Maryland, nos Estados Unidos, John Watson e sua aluna graduanda, Rosalie Rayner (com quem ele se casou anos depois), colocaram em prática o primeiro estudo de Condicionamento Clássico realizado em um humano.

https://www.youtube.com/watch?v=FMnhyGozLyE

O intuito do laboratório de Watson era testar as reações a estímulos que causassem medo. Para isso, ele e Rayner recrutaram um bebê com cerca de 9 meses de idade, que nomearam como Albert B, assim como o experimento como um todo. Os dois expuseram a criança a uma série de situações que envolviam barulhos muito altos e estridentes, um rato branco, um coelho, um macaco, máscaras e jornais em chamas.

A princípio, o garoto não demonstrou nenhum medo ao ter contato com os objetos. Foi então que Watson colocou o rato diante do menino e bateu em um cano de metal com um martelo. Ao ouvir o ruído alto demais, Albert começou a chorar. Depois disso, era apenas necessário que o roedor fosse mostrado para o menino para que ele começasse a chorar de pânico e tentasse fugir. O estudo foi repetido várias e várias vezes até que ele temesse qualquer tipo de objeto que fosse peludo e branco, inanimado ou não. Com isso, os pesquisadores conseguiram demonstrar como as emoções podiam se tornar respostas condicionadas.

Identidade número 1

(Fonte: Timeline/Reprodução)

Watson publicou os primeiros resultados de seus testes no Journal of Experimental Psychology, em fevereiro de 1920, causando uma grande repercussão no campo da psicologia. No entanto, ao longo dos anos, conforme o experimento ganhava notoriedade, as pessoas se chocavam com o tipo de tratamento ao qual o pequeno Albert tinha sido submetido, erguendo a derradeira pergunta: quem era a pobre criança usada como projeto de estudos?

Durante 7 longos anos, o psicólogo Hall P. Beck desempenhou uma força-tarefa para localizar a criança cujos documentos que a conectavam a Watson tinham sido queimados por ele, provavelmente temendo as críticas acerca de sua ética profissional. Muito embora o verdadeiro nome de Albert permanecesse desconhecido, o pesquisador foi capaz de cruzar datas de nascimento aproximadas com a informação de que a mãe do garoto foi uma enfermeira que o teve no hospital onde o estudo foi realizado, chegando a duas potenciais identidades.

Uma delas sugeria que Albert era Douglas Merritte, que morreu em 10 de maio de 1925 por conta de hidrocefalia (acúmulo de líquido no cérebro). O bebê sofria com a doença desde o nascimento, o que ia contra as alegações presentes nos estudos de Watson de que o garoto era saudável. Ele também tinha graves problemas neurológicos que, segundo estudos, indicavam que tinha a visão tão danificada que poderia ser considerado cego. Em uma avaliação mais aguçada do vídeo do experimento acompanhado por especialistas, foi constatado que o pequeno Albert demonstrava deficits comportamentais anormais, incluindo o desinteresse pelos animais apresentados e algum tipo de problema de percepção.

Cresceu então uma evidência de que não só Watson sabia sobre a condição da criança como também intencionalmente deturpou o seu estado de saúde, afirmando ainda que ele era psicologicamente estável.

Identidade número 2

(Fonte: Wonkette/Reprodução)

Incomodados com as inconsistências que a descoberta de Beck apresentava, mais tarde, em 2014, um grupo de pesquisadores liderados por William Powell foi capaz de rastrear quem era o segundo indivíduo em potencial para ter sido o pequeno Albert.

Chegaram a um garoto de nome William Barger, que nasceu no mesmo dia que Douglas Merritte, filho de uma enfermeira, Pearl Barger, que também trabalhava no hospital. Ela já tinha sido descartada das pesquisas de Beck por não ter tido o filho no hospital, porém documentações levantadas por Powell mostraram que a mulher teve três filhos com o marido, sendo que um deles foi entregue ao hospital em 1919, antes de se casarem. O nome dessa criança era William Albert Barger, porém constava nos registros do hospital que ele era chamado por seu nome do meio: Albert B, exatamente como Watson nomeou o seu projeto de estudo.

Além disso, a equipe de investigadores afirmou que Albert B estava muito mais próximo em peso e na idade escritos na época em que deixou o hospital. Quanto ao comprometimento analisado nos vídeos, o homem argumentou que a atitude do bebê não era exatamente atípica, mas fundamentada na pesquisa de Watson que indicava que a maioria dos bebês não demonstra medo ou reação a animais que nunca viram antes. Sobretudo, Powell justificou que o pequeno Albert segurava uma bola de gude na gravação, o que não corresponde aos problemas de deficiência visual que acusavam os arquivos médicos de Douglas Merritte.

Albert Barger morreu em 2007 depois de uma vida longa, feliz e saudável, disse a sobrinha do homem. Ironicamente, ele tinha uma aversão a animais, embora muito poderia se dar pelo fato de ter testemunhado um cachorro ser morto em um acidente. Se William Albert Barger fosse mesmo o Pequeno Albert dos estudos, então a afirmação de Watson de que seus experimentos causavam pouco dano no longo prazo estava correta.

Enquanto isso, as discussões e os desacordos entre os dois grupos de pesquisas são muitas e se sustentam até hoje, em um eterno jogo de "Quem É Mais Provável ser o Pequeno Albert?".

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