Ciência
17/04/2021 às 08:00•2 min de leitura
Fundada em 1865, a BASF SE é a maior multinacional no ramo de fabricação de produtos químicos do mundo, com subsidiárias em mais de 80 países, operando 6 unidades de produção integrada e 390 outras instalações espalhadas pela Europa, Ásia, Austrália, América e África.
Em 1911, foi construída uma fábrica em Oppau, agora parte de Ludwigshafen, na Alemanha, com cerca de 8 hectares e que empregava cerca de 8 mil pessoas na produção de fertilizantes nitrogenados. Durante o período da Primeira Guerra Mundial, os sais de amônio produzidos foram destinados para uso militar na confecção de explosivos, contudo eles continuaram a ser feitos após o fim da guerra, só que para fins civis.
Desde 1919, a mistura de cloreto de potássio com nitrato de amônio foi substituída por outra, com 50/50 de sulfato de amônio e nitrato de amônio, chamada “mischsaltz”. Altamente hicroscópica (que retém muita água), essa mistura é desvantajosa porque costuma se entupir sob a pressão de seu próprio peso durante o armazenamento em silos. Uma vez que era inviável para os funcionários subirem nos silos de 20 metros de altura, correndo o risco de serem enterrados pelo fertilizante, foi desenvolvido o método de disparar explosivos na massa endurecida para que ela amolecesse.
(Fonte: TN/Reprodução)
O procedimento era suicida, visto que nitrato de amônio é altamente explosivo. No entanto, testes realizados em 1919 mostraram que não explodiriam as misturas de sulfato de amônio contendo menos de 60% de nitrato de amônio. Com base nisso, foi considerado que a mistura movimentada pela fábrica era estável, e nada aconteceu durante os mais de 20 mil disparos de TNT que funcionários fizeram nos silos, até a manhã do dia 21 de setembro de 1921.
Às 7h30, houve uma explosão de imensa magnitude, criando uma cratera de 20 metros de profundidade no chão da instalação. De acordo com relatos de testemunhas, ocorreram 2 explosões seguidas, sendo que a 2ª soou mais destrutiva.
Isso foi comprovado nas leituras sismográficas de Stuttgart, a aproximadamente 150 quilômetros de Oppau. A explosão de 10% das 4,5 mil toneladas de fertilizantes, com uma energia de quase 2 quilotoneladas de TNT, foi ouvida em Munique, a 274 quilômetros da usina, causando imenso pânico nas pessoas. Uma nuvem verde-escura encobriu os céus das cidades de Ludwigshafen e Mannheim, acompanhada de uma fumaça espessa.
(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
Vários incêndios devastaram a instalação com explosões de magnitudes menores, sendo que a pressão da primeira "onda" destruiu cerca de 80% de todos os prédios em Oppau, deixando mais de 6,5 mil habitantes desabrigados, arrancando telhados ao longo de 25 quilômetros, resultando em um dano de mais de US$ 7 milhões.
No entanto, a catástrofe ainda não havia acabado, pois os bombeiros resgataram mais de 560 pessoas mortas das instalações da fábrica, sendo que mais de 2 mil ficaram gravemente feridas. Devido ao extenso dano e ao fato de todos os envolvidos diretamente no desastre terem morrido, foi necessário mais de 2 anos para que conseguissem determinar o que causou a explosão.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Foi constatado que um dos disparos realizados no silo 111 para soltar a massa de fertilizante foi em um local onde a mistura já havia sido amolecida no dia anterior. Além disso, acreditam que a composição não era uniforme, o que tornaria ainda mais provável a explosão.
O acidente serviu para destacar os protocolos perigosos e a má gestão da fábrica, uma vez que 19 funcionários morreram após uma mistura homogênea de nitrato de amônio explodir durante um processo de amolecimento cerca de 2 meses antes. A tragédia marcou a Alemanha, mas, infelizmente, teve poucos impactos nos métodos de produção de fertilizantes da época.