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Substâncias psicodélicas: o que acontece quando você vê Deus?

15/11/2020 às 08:003 min de leitura

Faz quase 60 anos que as drogas psicodélicas passaram a ser proibidas nos Estados Unidos, tanto para uso recreativo como para diversas pesquisas em andamento. Após serem demonizadas por pesquisadores ligados à CIA, o estudo dessas substâncias passou a depender da aprovação da agência reguladora de medicamentos (FDA) e também da polícia federal encarregada de repressão a narcóticos (DEA).

A interrupção das pesquisas não eliminou os resultados das pesquisas realizadas com aquelas substâncias. O fato é que drogas psicodélicas, como os chás de cogumelos, não apenas fazem as pessoas alucinarem, mas também podem funcionar terapeuticamente, no alívio da ansiedade e no tratamento da depressão.

Um outro aspecto do uso de drogas psicodélicas, os encontros com divindades, têm sido estudado por cientistas. Num artigo de 2017, chamado “Alucinógenos Clássicos e Experiências Místicas: Fenomenologia e Correlatos Neurais”, Roland Griffiths da Universidade Johns Hopkins e o neurocientista Frederick Barret retomaram o estudo do tema.

Fonte: Joe Amon/Getty Images/Reprodução
Cogumelos psilocibinos (Fonte: Joe Amon/Getty Images/Reprodução)

Conhecimento Sagrado

Animados por um ambiente regulatório mais permissivo, que permitiu a realização de trabalhos como o de William A. Richards (autor do livro Sacred Knowledge: Psychedelics and Religious Experiences), Griffiths e Barret têm inspirado uma nova geração de cientistas, num movimento que culminou com a criação, em 2019, do Centro de Pesquisa Psicodélica e da Consciência na Johns Hopkins.

Dirigido por Griffiths, o centro emprega cerca de 30 pessoas, desde pesquisadores experientes a universitários. O que eles pesquisam são os efeitos da ingestão da psilocibina, o princípio dos cogumelos alucinógenos, por pessoas com cérebros estáveis.

Os estudos se concentram, principalmente, nas experiências místicas durante as “viagens”, quando algumas pessoas sentem que estão na presença de Deus, ou uma entidade definida como Realidade Suprema, ou simplesmente afirmam ter se conectado com “tudo”, desde o Big Bang até agora.

Uma outra descoberta surpreendente foi que, quando as pessoas passam por esse tipo de experiência espiritual durante uma viagem alucinógena, ficam propensas a abandonar vícios e maus hábitos, e acabam se tornando mais felizes e satisfeitas com suas vidas em longo prazo.

Fonte: Pinterest/Reprodução
(Fonte: Pinterest/Reprodução)

O homem que convidou Deus para conversar

Clark Martin foi diagnosticado em 1990 com um câncer renal estágio 4, com expectativa de sobrevida de menos de um ano. Vinte anos após a “sentença” de morte, ele ainda continuava vivo, mas desgastado pela longa batalha contra a doença. Cansado de tantos medicamentos, leu sobre um estranho programa de pesquisa.

No experimento, ele não tomaria nenhuma pílula mágica, mas sim drogas psicodélicas. Como psicólogo clínico aposentado, Martin já havia lido sobre o assunto, mas nunca havia experimentado. No dia marcado, ele retirou de um cálice a sua psilocibina, orientado por William Richards, o autor do famoso livro.

A trip não começou bem. Após relaxar um pouco de olhos fechados, ele entrou em pânico quando os produtos químicos começaram a fazer efeito. Segundo Martin, “as coisas na sala não pareciam mais familiares, as vozes não faziam mais sentido”. Percebendo a angústia do paciente, Richards apenas colocou o braço no ombro de Martin.

A viagem de Martin

 Viagem alucinógena assistida (Fonte: Wikimedia Commons)
Viagem alucinógena assistida na Universidade Johns Hopkins (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

Quando a psilocibina entrou totalmente na sua fisiologia, Martin se viu numa espécie de ginásio com vitrais, que ele identificou como uma catedral, ou um santuário. A única reação que teve foi… convidar Deus para conversar.

À medida que a viagem de Martin avançava, ele esperava calmamente por uma resposta de Deus. Ele esperou muito tempo, mas a resposta não veio. O silêncio não o perturbou. Ele passou a se ver dentro de uma bolha, espessa e ao mesmo tempo frágil. Ele tinha certeza de que outras pessoas já haviam morado naquela membrana.

Para Martin, que sempre viveu sua vida com base na lógica e racionalidade, a viagem parece ter invertido o sinal de sua motivação: de lutar contra a morte para o de viver intensamente e estar alerta a cada sensação, a cada sentimento, a cada percepção. Depois que a sessão terminou, sua depressão também se foi.

A experiência divina

Fonte: Wikimedia Commons
(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

Alan Davis, um professor de Ohio e colaborador de Griffith, conduziu uma pesquisa via internet sobre “experiências de encontro com Deus”, estando sóbrio ou sob uso de substâncias psicodélicas. Mais de 4 mil pessoas responderam.

Deus foi rotulado majoritariamente pelo grupo sóbrio. Os usuários psicodélicos preferiam chamar a divindade de Ultimate Reality. Mas os dois grupos foram unânimes em descrever o que encontraram como “consciente, benevolente, inteligente, sagrado, eterno e onisciente”.

 Desenganado há 30 anos, Clark Martin continua vivo. Ele ainda não conversou pessoalmente com Deus. Mas parece ter obtido algum tipo de resposta.

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