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11/09/2021 às 11:00•2 min de leitura
Em janeiro de 1685, o "traseiro" de Luiz XIV ganhou destaque quando os médicos responsáveis por sua saúde notaram um leve inchaço na região anal. Em 18 de fevereiro, um abscesso se formou e, em 2 de maio, a situação do rei da França piorou: uma desagradável e dolorida fístula apareceu.
Luiz XIV. (Fonte: Wikipedia/Reprodução)
Claro, todo tipo de solução típica da época foi tentado, mas sangrias, loções, compressões e enemas não surtiram efeito. O rei já não podia cavalgar nem mesmo se sentar em seu trono ou em qualquer outro lugar sem sentir dor.
Além da fístula, Luiz XIV ainda tinha que lidar com a higiene, ou melhor, com a falta dela. Na época, os cuidados pessoais nesse sentido eram quase inexistentes. Até a Igreja era contra tomar banho, já que, segundo ela, a prática poderia causar doenças, induzir ao sexo promíscuo e levar à imoralidade.
A princípio, nenhum cirurgião quis se arriscar colocando as mãos no popular Rei Sol sem antes ter treinado, mas a operação acabou sendo planejada e foram poucas as pessoas, fora os médicos do rei, que sabiam dela.
O responsável escolhido para a proeza foi o cirurgião-chefe do rei, Charles-François Félix, que nunca tinha feito algo do tipo, mas acabou ganhando a permissão para experimentar/treinar.
A principal preocupação de Charles era com o instrumento. Após suas pesquisas, ele desenvolveu um dispositivo que chamou de "bisturi real" (le bistouri royal). Tratava-se de uma longa e curva ferramenta de prata, agora em exibição no Museu de História da Medicina em Paris.
Charles-François Félix (Fonte: Wikipedia/ Reprodução)
A operação levou três horas para ser concluída e foi bem documentada. Pelo sucesso, Monsieur Félix ganhou títulos, terras e dinheiro. Se deu muito bem e nunca mais pegou no famoso bisturi real.
Bisturi criado por Charles. (Fonte: Twitter/Catéter Doble Jota/ Reprodução)
Devido ao êxito obtido com o tratamento cirúrgico da fístula do rei, as operações passaram ser vistas com grande respeito pelos franceses. Naquela época, os médicos eram muito respeitados, porém a prática cirúrgica era vista com maus olhos.
Além disso, ajudou a impulsionar estudos sobre cirurgias e a Medicina em geral, tanto que médicos de outros países quiseram aprender com os médicos da França. Para se ter ideia de como as operações passaram a ser respeitadas, basta saber que Luiz XV, neto do rei, abriu a Academia Real de Cirurgia, atualmente conhecida como Academia Nacional de Cirurgia.