Ciência
24/01/2024 às 10:00•2 min de leitura
Cientistas da Escola de Medicina Perelman da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, acabaram de anunciar a perfusão bem-sucedida do fígado de um porco usando sangue de um doador humano recentemente falecido. Os pesquisadores esperam que esta ideia possa ser desenvolvida no que eles chamam de "ponte" para pacientes gravemente enfermos e que esperam por um transplante de fígado.
O transplante de órgãos é um dos avanços mais incríveis da medicina do século XX. Contudo, a triste realidade é que não existem órgãos suficientes para satisfazer todos os pacientes que estão na lista de espera e dependem disso para sobreviver. Agora, esse experimento bem-sucedido pode representar uma nova solução criativa.
(Fonte: GettyImages)
Em comunicado oficial, o líder do estudo, Dr. Abraham Shaked, afirmou que a espera por um transplante de órgãos é uma tragédia sempre que um paciente morre. Logo, trabalhar para encontrar alternativas para esse processos também ajuda a prolongar a vida desses pacientes.
"O sucesso da primeira parte do nosso estudo é significativo para aqueles que enfrentam insuficiência hepática, oferecendo um vislumbre de um futuro onde soluções inovadoras podem trazer esperança aos pacientes que, de outra forma, poderiam estar destinados a morrer enquanto aguardam um transplante", disse.
Para o experimento, realizado em dezembro de 2023, o sistema circulatório e a respiração do doador foram mantidos artificialmente funcionando depois que os médicos confirmaram a morte encefálica. Como os órgãos não foram considerados adequados para a doação a pacientes na lista de espera por transplantes, a família concordou em permitir que o corpo fosse utilizado para este procedimento.
A perfusão, como é chamada, refere-se ao processo de circulação do sangue através de um órgão. O fígado do doador foi mantido no lugar o tempo todo — o que significa que em nenhum momento o fígado do porco foi transplantado. Em vez disso, o órgão do animal, que foi geneticamente modificado para minimizar as chances de rejeição, foi conectado ao sistema circulatório do doador fora do corpo.
(Fonte: GettyImages)
O sangue do doador circulou pelo fígado do porco, desviando do seu próprio fígado, por 72 horas. Nesse período, não foi constatado qualquer tipo de inflamação no órgão ou problemas no corpo do doador. Isso pode ser uma alternativa extremamente relevante para as pessoas que estão na lista de transplante de fígado, as quais podem ter que aguardar até 5 anos para conseguirem realizar o procedimento.
Atualmente, não há como substituir a função do fígado por uma máquina, como pode ser feito com a diálise renal. Então, os pacientes com insuficiência hepática realmente não têm outra opção senão um transplante. Se esta abordagem de perfusão se revelar segura e viável, poderá ajudar muitas pessoas a se manterem vivas e maximizar suas hipóteses de conseguir um transplante.
Também existe potencial para que essa técnica seja usada como tratamento temporário para pessoas em recuperação de lesões hepáticas — semelhante à oxigenação por membrana extracorpórea para coração e pulmões. Vale ressaltar que esses resultados são apenas a primeira fase de um estudo mais amplo que ainda está sendo desenvolvido com mais três doadores falecidos.