Ciência
01/03/2024 às 18:24•2 min de leituraAtualizado em 01/03/2024 às 18:24
As doenças oculares impactam bastante no dia a dia, mesmo quando se apresentam nas suas formas mais leves. E enquanto algumas condições são transmitidas geneticamente ou se desenvolvem de forma agressiva, ainda há doenças raras que podem se originar a partir do simples e aparentemente inocente ato de coçar os olhos repetidamente. Seria este o caso do ceratocone?
O ceratocone é uma doença que evolui gradualmente, caracterizada pelo afinamento da córnea. Ela ocorre justamente quando esta camada fina e transparente que recobre o globo ocular é projetada para fora, ficando com o formato que se assemelha ao de um cone.
Sua origem é variada, mas por se tratar de uma condição rara e que pode ser geneticamente adquirida, ela não surge exclusivamente a partir do ato de esfregar os olhos com frequência. No entanto, tal hábito não deve ser mantido, pois representa um risco para o seu desenvolvimento.
Uma vez transmitido, o ceratocone geralmente se manifesta entre os 10 e 25 anos, mas dada a sua evolução lenta, pode progredir até que a pessoa atinja uma idade mais avançada, por volta dos 40 anos. Ele também pode deixar de evoluir e até mesmo se apresentar de forma assimétrica, afetando mais a um dos dois olhos.
Segundo um artigo publicado no International Journal of Ophthalmology, a fricção dos olhos realmente contribui para o desenvolvimento do ceratocone, variando conforme o período e mesmo a força aplicada em tal ato. Essa conclusão foi obtida a partir da análise de 24 estudos que abordavam o surgimento e agravamento da condição.
Ou seja, por mais que tal associação pareça improvável, ela foi confirmada por pesquisadores. Além do ato de coçar provocar edemas e deixar cicatrizes, ocorre a redução da acuidade visual. Isso significa ainda que aqueles que apresentam alergias precisam ter cuidado redobrado no dia a dia para não agredir essa região tão sensível.
Outro estudo, compartilhado na Review of Optometry, foi além de investigar essas causas mais comuns. Ele associa o tabagismo (ou exposição à fumaça), que tem como um dos efeitos deixar os olhos mais secos e irritados, e mesmo a pressão exercida sobre os olhos ao dormir, como outros dois potenciais fatores de risco.
Apesar de haver diversos fatores associados ao seu surgimento, entende-se que alterações na estrutura da córnea, relacionadas a perda de elementos estruturais, como o colágeno, também ocasionem o problema. Da mesma forma, pessoas com alterações oculares congênitas, como a catarata, possuem um risco mais elevado de desenvolver o ceratocone.
Nas fases iniciais, a doença pode se manifestar com uma visão borrada e distorcida, representando uma leve perda no campo de visão. Essa dificuldade acontece tanto na observação daquilo que está mais próximo, quanto de objetos mais distantes. Assim, as pessoas acabam mudando o grau dos óculos por mais de uma ocasião.
A sensibilidade à luz, a redução da capacidade de observar em locais escuros ou durante a noite, e visão dupla também são outros sintomas que surgem.
Em casos mais leves, os óculos oferecem uma solução satisfatória. Mas considerando que essa deformação provocada pelo ceratocone pode progredir, com efeito análogo ao do astigmatismo, embora irregular, as lentes de contato também são recomendadas. Assim, elas ajustam o formato da córnea.
Nos cenários em que ambos não se mostram eficientes, há outros procedimentos que podem auxiliar na regularização do formato da córnea. O transplante de córnea, inclusive, figura entre uma das soluções mais adotadas para o tratamento do ceratocone nos quadros mais graves.
E diante da necessidade de promover uma maior conscientização sobre a doença, visto que 1 a cada 2000 pessoas no mundo é afetada por ela, no ano de 2016 foi instituído o 10 de novembro como Dia Mundial do Ceratocone.